A corrupção e o alerta

Por diversas vezes, o chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, o papa Francisco, tocou no tema da corrupção em suas mensagens aos devotos. Em todas as ocasiões, o religioso foi veemente em sua condenação, expressando aversão a tais práticas como sendo pecaminosas e da maior gravidade. "A corrupção degrada a dignidade da pessoa e destrói bons e belos ideais. A sociedade é chamada a se comprometer especificamente a combater o câncer da corrupção que, com a ilusão de ganhos rápidos e fáceis, realmente empobrece a todos", disse, na última ocasião, em dezembro. Antes, o papa havia falado em "vírus social".

Não é de se impressionar que uma figura religiosa, com tanta insistência, trate do tema. Sua gravidade é inconteste. E mais: em muitos países, é uma preocupação diária, ainda que penosamente o problema se coloque como crônico, da ordem do irremediável. O Brasil é um deles. Vive-se, historicamente, às voltas com a corrupção, e sua erradicação é um sonho há muito acalentado pela população. É uma preocupação que o cidadão acostumou-se a levar consigo, sempre que é levado às urnas para sufragar.

O discurso anticorrupção tornou-se central na política brasileira, nos últimos anos, exercendo forte influência nos resultados das últimas eleições, em outubro de 2018. Com a aproximação de um novo pleito, o tema já é ensaiado em discursos daqueles que almejam se reconduzir aos postos ocupados ou ocupá-los, pela primeira vez, nos próximos quatro anos.

No entanto, há muito o que ser feito. É o que indica o relatório do Índice de Percepção de Corrupção (IPC) 2019, publicado anualmente pela ONG Transparência Internacional (TI), que conta com mais de 100 seções no mundo (Brasil incluso). O indicativo é estabelecido a partir da consulta a empresários e analistas de diversos países, sobre o grau de corrupção em cada nação.

O Brasil, no último ano, caiu uma posição, figurando atualmente na 106ª posição, de um total de 180. A pontuação brasileira deixa o País atrás das médias mundial e pan-americana.

Há de se considerar, claro, que o índice tabula a percepção, não podendo acessar, com precisão, o fato em si. No entanto, não se pode ignorar o alerta do relatório. Primeiro porque, em parte, este olhar sobre o País parte de empresários, potenciais parceiros comerciais que precisam sentir segurança para investirem. Segundo porque há indícios suficientes, no noticiário, para que se creia na verossimilhança entre o retrato e a realidade.

O diagnóstico não deve conduzir ao desespero, mas ao empenho de, como sociedade, se adotar medidas que corrijam o curso trilhado pelo Brasil. É importante acompanhar, com atenção, os movimentos das instituições dedicadas ao combate à corrupção, devendo estas serem resguardadas de desmontes.

Fundamental também se faz estar bem informado acerca de personagens, grupos de influência e forças políticas a disputarem os votos de outubro. Deve-se reconhecer o mérito e o compromisso cívico do candidato escolhido com a missão de cada cargo pleiteado. Escolher bem pode não ser a tarefa mais fácil, mas, frente a dados como os mencionados, é indispensável para um País o qual todos os brasileiros querem ver livre da corrupção.


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