Espírito natalino em cenário de extrema pobreza

Estamos na semana do Natal. Para a tradição cultural e religiosa cristã no 25 de dezembro é celebrado o nascimento de Jesus Cristo, simboliza a renovação do Salvador. Defendem que é tempo de semear amor ao próximo, de fazer o bem material e espiritual, de demonstrar esperança e generosidade, em particular aos pobres e excluídos.

No tempo presente é urgente e necessário que os cristãos tenham a consciência crítica e ética acerca das raízes das crises econômica, política e sanitária que provocam o aumento das desigualdades sociais e raciais. Cabe demonstrar solidariedade às famílias que não tem condições de garantir o direito básico a alimentação, e tentam sobreviver com fome.

Esse contexto é desolador para uma grande parte da população brasileira, de miseráveis e extremamente pobres, desempregados e desprotegidos, cuja subjetividade encontra-se abalada pela humilhação e investidas antidemocráticas.

Segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (IBGE/2020) a extrema pobreza atinge 7,4% dos negros (pretos e pardos) e 3,5% dos brancos. Está presente na vida de 31% da população negra (pretos e pardos) e 15,1% dos brancos, e conta com 19 milhões as pessoas com fome no país.

Esse quadro demonstra o aumento das desigualdades e a permanência das desvantagens para os mesmos segmentos, ou seja, aqueles formados por grupos étnicos discriminados como população negra, indígenas, povos e comunidades tradicionais, mulheres, mulheres mães de família e outros, todos marcados pela invisibilidade e falta de representação em espaço de poder

Na contramão desse espírito natalino temos infelizmente uma franja da sociedade brasileira, composta em parte por uma elite econômica e política, que cotidianamente retira a humanidade dessa parcela discriminada, ao culpabilizá-la pela sua situação social e econômica. Passam a disseminar a narrativa da eficiência do mundo contemporâneo apostando na lógica do desempenho e da produtividade e segue negando os obstáculos que se colocam para o acesso ao trabalho, renda, segurança alimentar e outros direitos.

Na tentativa de manter a dominação tentam mascar as dinâmicas de poder que estruturam as desigualdades, sobressaindo o discurso de ódio e ausência de responsabilidade diante dos processos de opressão e exploração dos vulnerabilizados.

Espera-se que o espirito natalino contribua para a defesa da vida e subverta a lógica individualista em nome de agenciamentos coletivos voltados ao Bem Viver. Acreditando que um outro mundo é possível construir por meio de atitude generosas e solidárias por parte da sociedade civil e de um Estado formulador de saídas sustentáveis de inclusão desses segmentos, com competência e inovação pela via políticas públicas estruturantes, com capacidade de mudar os rumos da politica nacional e dos direitos humanos.

“Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.