PIB cresce, mas brasileiro não tem mais dinheiro para encher a geladeira

Novas pesquisas sobre hábito de consumo dos brasileiros mostram piora do poder aquisitivo. Crescimento do PIB é dissonante desta realidade

Legenda: Inflação dos alimentos e pandemia mudaram rapidamente os hábitos de consumo para os mais pobres
Foto: Shutterstock

Gritos eufóricos ecoaram, no início deste mês, após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do primeiro trimestre de 2021. O Governo Federal faz o que qualquer outro faria: tenta transformar esta recuperação em uma bandeira de campanha já pensando nas eleições de 2022, num clima de "milagre econômico".

Apesar de os números serem positivos e indicarem, sim, um processo de saída do atoleiro, o que legitima parcialmente as comemorações, não dá para cair na fábula de que, de repente, o Brasil virou uma paisagem de prosperidade, crescimento, abundância de emprego e renda, na qual unicórnios galopam e fadas batem asas.

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Principalmente pelo fato de esta recente alta do PIB se amparar em fatores que impactam em medida muito discreta a realidade cotidiana da população. O novo boom das commodities e o crescimento das exportações, por exemplo, são elementos sem os quais, indubitavelmente, o resultado trimestral teria sido mais tímido.

Na prática, o consumo das famílias ainda está em patamares rasteiros. Caiu 0,1% no primeiro trimestre, enquanto o crescimento global do PIB neste período foi de 1,2%.

A nova mesa do brasileiro

Diferentes pesquisas têm mostrado os efeitos corrosivos da crise econômico-sanitária e da inflação nos hábitos de consumo da população, em especial das classes de baixo e médio poder aquisitivo.

Com os preços de itens básicos nas alturas, muitos brasileiros têm abandonado produtos mais caros, que antes constavam na cesta habitual, como carnes vermelhas e brancas, por alimentos baratos, como salsicha, ovo e mingau. Há ainda muitos que nem isso conseguem comprar. 

A fome e a insegurança alimentar estão cada vez mais escancaradas. Basta uma saída rápida do isolamento social para testemunhar um contingente maior de pessoas vulneráveis em busca de ajuda nas ruas para sobreviver.

Mesmo diante deste contexto de empobrecimento, não se viu esforço em Brasília para garantir parcelas mais robustas do auxílio emergencial. Em 2021, com a inflação tão voraz, os valores pagos - de R$ 150 a R$ 375 - garantem pouco aos beneficiários.

Sem impacto social direto, o PIB, mesmo sendo um mensurador econômico de enorme relevância, aos olhos de grande parte da população pode ser apenas um número gélido ou uma sílaba que as pessoas escutam de vez em quando e se perguntam: "tá, mas o que eu tenho a ver com isso?".



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