O futebol é fascinante e enganador. Assim traduzo a graça de um esporte que costuma contrariar a natureza das coisas. No futebol, ninguém consegue antecipar com segurança o que poderá acontecer, por maior que seja a diferença entre os contendores. Assim, hoje, os indicativos apontam que o River Plate tem tudo para ganhar do Fortaleza no Estádio Monumental de Nuñez. O time argentino tem a bagagem de tantas Libertadores; o Fortaleza é neófito no torneio continental. O primeiro, veterano; o segundo, debutante. Mesmo assim, não há quem tenha a coragem de descartar uma vitória cearense. Motivo: há exemplos clássicos de surpresas inacreditáveis. Em 2003, o Paysandu pela primeira vez participava da Libertadores. Teve de enfrentar o Boca Junior no “La Bombonera”. O Boca já era detentor de quatro títulos da Libertadores; o Paysandu, o azarão. Final do jogo: vitória do Paysandu (0 x 1), gol do cearense Iarley. Desabaram os argumentos que previam uma goleada dos argentinos. Antes desse feito do Paysandu, só dois times brasileiros tinham conseguido ganhar do Boca no La Bombonera: o Santos, de Pelé (1963) e o Cruzeiro, de Ronaldo e Dida (1994).
Surpresa
Vitórias monumentais, como a do Paysandu sobre o Boca em 2003, dão suporte ao argumento de que pode haver vitória do Fortaleza, por mais difícil que possa parecer. O Leão está numa fase delicada. Perdeu a autoconfiança. As derrotas seguidas para o Colo-Colo e para o Cuiabá abalaram o moral do grupo. Mas, no futebol, existem fatos inexplicáveis. Então...
Exemplo
No sábado passado, aconteceu um desses fatos inacreditáveis. Quem poderia imaginar que o Ceará demoliria o poderoso Palmeiras dentro do Allianz Parque. Logo o Ceará, que não passara nem pelo modesto Iguatu. Logo o Ceará que não passara nem pelo CRB. Pois é. Quem diria. O Vozão derrubou a invencibilidade, quebrou tabu, fez e aconteceu. É o futebol, fascinante e enganador.
Quem sabe
Sílvio Romero, o argentino, estará em casa. O Monumental de Nuñez para ele é como o PV para nós. Até agora, Romero tem tido discreta participação no Fortaleza. Dizem que santo de casa não obra milagre. Às vezes, obra sim. Nem sempre predomina a sentença dos provérbios. É o momento ideal para Romero, em casa, fazer a festa diante dos seus patrícios.
Mesma língua
O técnico Vojvoda também conhece a catimba dos seus irmãos argentinos. Ele fala a mesma língua. Como Romero, Vojvoda também estará em casa. Vai, de olhos fechados, da sala ao quintal, do quarto à cozinha. Sabe das dificuldades, mas conhece os atalhos. Isso poderá beneficiar o Fortaleza. Romero e Vojvoda têm tudo para tranquilizar o grupo.