Sexta-Feira Santa, rádio e futebol

Ingressei na Rádio Uirapuru em 1965. Na época, a partir de Quinta-Feira Santa, nem pensar em futebol. Estádios fechados em nome da religiosidade do povo cristão. Futebol só no Domingo da Ressurreição. Aí, sim, um dia de festa. O mundo mudou muito. As emissoras de rádio, na Quinta-Feira Santa, tocavam apenas músicas clássicas. Oportunidade para o discotecário colocar no ar Mozart, Beethoven, Tchaikovsky, Handel, Puccini. Na Sexta-Feira Santa, era ainda maior o respeito. As emissoras ficavam fora do ar. A Rádio Uirapuru, numa exceção, ia ao ar apenas às 12 horas para apresentar a peça Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, clássico gravado pelo extraordinário cast da Rádio Nacional em 1959. A radiofonização foi feita pelo famoso Giuseppe Ghiaroni, tendo Roberto Faissal no papel de Jesus Cristo. Terminada a peça, a emissora outra vez saía do ar. Gradualmente, o sentimento de respeito foi desaparecendo. Desrespeito tão grande que quiseram promover no município de Aracati, no presente ano, um “Carnaval” em plena Sexta-Feira Santa. Só não o fizeram porque houve forte protesto dos segmentos religiosos. Fim dos tempos, amigos.  

 

Respeito 

 

Hoje, os dirigentes do futebol ainda dão sinais de respeito à Sexta-Feira Santa. Não há programação de futebol na Sexta-Feira da Paixão. Se há, não vi. Pesquisei as tabelas da Copa Libertadores da América, Copa Sul-Americana, Brasileirão nas diversas categorias e Campeonato Cearense. Nenhum jogo marcado. Bom sinal, em meio a um mundo cada vez mais sem Deus.   

 

Argumentos 

 

Os não religiosos, que defendem um dia de atividades normais na Sexta-Feira Santa, argumentam que não há pecado nenhum em se disputar jogos oficiais nessa data. Verdade. Não há pecado mesmo.. Entretanto, que custo há em se respeitar a tradição cristã de recolhimento interior num dia tão propício à reflexão?  

 

Novos tempos 

 

O mundo vive a pluralidade de opiniões, de manifestações, livre expressão, tudo mais. Entretanto, isso se torna mais importante quando há o respeito recíproco entre segmentos diferentes. Se o futebol pode parar por um dia, em respeito à Sexta-Feira da Paixão, há mais é que se aplaudir a postura dos que sabem respeitar as convicções alheias. 

 

Nos estádios 

 

Observem que, nos estádios de futebol, o que se tem pedido é respeito. Há movimentos contra o racismo e contra a intolerância de toda ordem. Isso é bonito. Representa um avanço da civilização em busca de uma convivência pacífica. O respeito às crenças e tradições religiosas deve ser pregado também dentro e fora dos estádios. O não programar jogo para Sexta-Feira Santa é louvável.