Há certos jogos onde um time, pela superioridade, parece nem precisar entrar em campo. Um “já ganhou” no próprio vestiário. Se assim fosse, nem precisaria haver o jogo. Era encaminhar logo os três pontos para o poderoso. Mas não é assim. O Ceará vai enfrentar o Palmeiras, campeão da Copa Libertadores (2020 e 2021), campeão da Copa do Brasil (2020), Campeão da Recopa Sul-Americana 2022 e campeão paulista 2022. E mais: tem um treinador português, Abel Ferreira. Ora, no Brasil, desde que Jorge Jesus fez sucesso no Flamengo, os portugueses assumiram o papel de sábios do futebol moderno. E lá vai o Vozão encarar o Palmeiras no Allianz Arena. Na última vez em que lá esteve, o Ceará foi goleado (3 x 0). Ainda bem que o futebol não permite vitórias antecipadas, por maior que seja a diferença técnica e física entre os contendores. É exatamente assim que há nos recônditos do coração uma esperança. Sim, semelhante à de 1994, que fez calar a torcida palmeirense no então Estádio Parque Antártica. Na época, o Palmeiras era o senhor dos senhores. Aí, contrariando a lógica e sepultando todos os prognósticos, o Ceará, com um empate (1 x 1), mandou embora da Copa do Brasil o Verdão.
Semelhança
O Palmeiras, antes de enfrentar o Ceará em 1994, estava no auge: campeão brasileiro, bicampeão paulista, campeão do torneio Rio/São Paulo e liderava a Copa Libertadores. Tal como agora, era o favorito total. Portanto, estava numa fase de ouro. Ninguém acreditava que o Ceará pudesse superar o Verdão dentro do Parque Antártica. O Ceará superou.
Medalhões
No timaço do Palmeiras de 1994 estavam vários jogadores da Seleção Brasileira: o zagueiro Cléber, o lateral-esquerdo Roberto Carlos, o volante César Sampaio, o meia Amaral e o centroavante Evair. O técnico era o famoso Vanderlei Luxemburgo. Então, era entrar em campo e despachar o Ceará. O Vozão empatou (1 x 1) e eliminou o Palmeiras.
A torcida
Quando o serviço de som do Estádio Parque Antártica anunciou Claudemésio na lateral-esquerda do Ceará, um torcedor olhou para a cabine onde eu estava e disparou: “Time que tem Claudemésio vai para lugar nenhum”. Fiz de conta que não ouvi. Logo depois a bola começou a rolar. O Ceará fez 1 a 0, gol de Jaime. Toda vez que o Claudemésio pegava na bola, eu rasgava elogios ao lateral do Vozão.
Banana
Na fase final, o Palmeiras foi para cima. Precisava da vitória. O Ceará se defendendo como podia. Toda vez que o Claudemésio tirava uma bola, eu gritava: “O gigante Claudemésio alivia”. No apito final, eu gritei: “Time que tem Claudemésio eliminou o Palmeiras em pleno Parque Antártica”. Aí o torcedor, antes de ir embora, olhou para a cabine e deu uma banana. Fiz de conta que não vi.