Contagem regressiva para o Campeonato Cearense

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As novas gerações, contempladas com transmissões pela televisão, ao vivo, dos principais campeonatos europeus, fazem pouco caso dos certames estaduais. E, de certo modo, compreendo a posição dos mais jovens. Por isso, não raro, há gente nova vestindo as camisas do Barcelona, do Liverpool, do PSG, do Milan, do Real Madrid... Falam em Messi, Mbappé e Benzema como quem fala de amigos dos rachas dos fins de semana. 

Mas esses jovens não tiveram as emoções dos primeiros tempos, máxime a partir da década de 1950, quando o Brasil se posicionou como o melhor dos melhores. Os campeonatos estaduais são o berço do futebol brasileiro. O glamour do Campeonato Carioca era insuperável. O Campeonato Paulista também tinha seus encantos. Assim também, guardadas as devidas proporções, o Campeonato Cearense. O pequenino PV, com arquibancadas e alambrados de madeira, era para mim um Maracanã, um Pacaembu. E assim as emoções, as rivalidades, davam o tempero. A Europa de Puskas estava longe demais. O querer bem ao Campeonato Cearense vem daí. Havia amor à camisa. Não havia torcida organizada. As torcidas eram misturadas. E nem havia confusão. 

Resistência 

Hoje, os campeonatos estaduais perderam prestígio. Sobrevivem. São discriminados e tratados como coisas reles. Alguns dirigentes dos grandes clubes querem a extinção desse tipo de disputa. Alegam que são deficitários e que não trazem mais nenhum proveito. Assim mesmo, aí estão os “estaduais”, resistindo e morrendo, morrendo e resistindo como diria Demócrito Rocha. 

Saudosista 

Tudo era tão diferente. Transmissões apenas pelo rádio. Primeiramente, só duas emissoras faziam as transmissões: a Ceará Rádio Clube e a Rádio Iracema. Em 1956, chegou a Rádio Uirapuru de Fortaleza. Em 1958 chegou a Rádio Dragão do Mar. As narrações eram de alto nível: Jaime Rodrigues, Afrânio Peixoto e Ivan Lima eram os maiores nomes na década de 1950. 

Sistema 

Hoje existem as redes sociais, plataformas digitais de toda ordem. É o mundo da comunicação. Na época, serviços de alto falante percorriam os bairros da cidade, fazendo a divulgação dos jogos. Em meados da década de 1950, ainda recordando quando o Náutico Capibaribe de Recife veio para um jogo amistoso aqui. O PV ficou superlotado.  

Lembranças 

O Campeonato Cearense ficou guardado na minha mente e no meu coração. Os da década de 1950 mais intensamente, máxime o de 1957 que eu, com 10 anos, acompanhei. O Ceará foi campeão. O Vozão tinha o goleiro Ivan Roriz, Alexandre, Pelado, Damasceno, Guilherme, Bira, ídolos da época. É história, gente! 

Memória 

Ontem fez quatro anos da morte do comentarista Sérgio Pinheiro, profissional muito querido. Viajamos muito pelo mundo. Um amigo-irmão. Foi um dos mais brilhantes comentaristas do rádio cearense. Serginho começou a trabalhar na Rádio Uirapuru em 1967. Eu comecei em 1965. Uma amizade sólida. Inesquecível. Saudade muita.