De certa época para cá, os dirigentes do futebol brasileiro encheram-se de amores pelos técnicos estrangeiros. Nada contra os estrangeiros. Sejam bem-vindos dentro do salutar intercâmbio internacional. Mas não aceito os exageros nacionais. Em 2019, o português Jorge Jesus virou o maior dos maiores. Jorge Sampaoli, o segundo maior dos maiores. Aí mandaram buscar os europeus. O Flamengo trouxe o catalão Domènec Torrent. Não deu certo. O Vasco trouxe o português Ricardo Sá Pinto. Não deu certo. O Palmeiras trouxe o português Abel Ferreira, que ganhou a Libertadores, mas sobrou feio no mundial de clubes. Agora aconteceu algo que só mesmo no futebol brasileiro pode acontecer. O técnico Rogério Ceni, campeão brasileiro, vive sob ameaça de demissão. E Abel Braga, vice-campeão brasileiro, eleito o melhor treinador da competição, já tinha uma sombra antes mesmo do término do campeonato. A diretoria do Inter há muito estava em negociações com o espanhol Miguel Ángel Ramírez. Treinador aqui, a cada três tropeços, vive olhando para a guilhotina. Por isso afirmo sem medo de errar: o Brasil é o inferno dos técnicos de futebol. Eles vivem com um pé no clube e o outro no meio da rua.
Inverso
Na década de 1960, os portugueses olhavam com deslumbramento para o futebol brasileiro. Importaram o técnico brasileiro Otto Glória. Ele dirigiu Benfica, Sporting, Porto e a Seleção Portuguesa, terceira colocada na Copa do Mundo de 1966. Melhor colocação de Portugal até hoje.
Outro
O técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari também dirigiu a Seleção Portuguesa. Esteve na Copa da Alemanha, ficando em quarto lugar. Portanto, foi com técnicos brasileiros as duas melhores colocações de Portugal nas Copas do Mundo: 3º em 1966 com Otto Glória; 4º em 2006 com Felipão.
Sem restrições
Portas abertas para técnicos e jogadores estrangeiros nesse futebol globalizado. Nada contra. Apenas detesto o endeusamento e o modismo bobos. Os técnicos brasileiros são bons. Não são perfeitos como os europeus também não são. Tanto não são que aí está a realidade.
Pílulas
O Guto Ferreira, técnico do Ceará, tem valor. Êxito na temporada 2020. Perdeu o título de campeão cearense, mas ganhou a Copa do Nordeste e uma vaga na Sul-Americana. Eu vou dizer que Guto, porque não é português nem europeu, não entende de futebol? Entende, sim. E muito.