Qual é o mistério da sua fé?

Foi na missa de 1 ano da passagem do meu pai para um outro lugar desconhecido que ouvi do padre o seguinte comentário: “antes de virmos a esse mundo, crescemos na barriga de uma mulher. Ali, estamos guardados por alguns meses, seguros, alimentados e, de repente, rompem, agressivamente, aquele espaço, para nos colocarmos num mundo onde tem um monte de gente esperando por nós. Não sabemos quem são e nem suas pretensões. E o que fazemos? Gritamos!”, falou e disse com sotaque lusitano, tal qual meu pai.

Na mesma hora levantei o olhar com um largo sorriso compreendendo toda aquela energia. Deixei de lado o “kit” choro (lógico que tinha ido preparada para chorar e ranger dentes) e foi ali que meu luto começou a mudar: a morte também faz parte da vida.

É certo que a morte causa medo, afinal é a “marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação, que iguala tudo...”, já dizia Ariano Suassuna em o Auto da Compadecida com precisão cirúrgica.

Se dói no recém-nascido sair do seu conforto para conhecer um novo mundo, a dor quando alguém morre é de quem fica, porque em quem parte, ninguém tem notícia de como é que é estar do outro lado.

Com todo respeito a qualquer opinião contrária, não acredito que estejamos aqui para vivenciar um monte de situações e ponto final.

Hoje, por exemplo, é o dia em que celebramos a ressurreição de Jesus. Ressuscitar significa retornar da morte à vida. Que vida?

Na minha singela opinião, podem ser duas!

Uma: oportunidade de redescobrir-se, reencontrar-se quantas vezes for necessário, encontrar a sua fé, buscar fazer diferente na vida terrena. Colocar os pés no chão e perceber o propósito da caminhada. Retomar a trajetória a qualquer tempo. Procurar resolver o que está mal resolvido agora. Deixar esse hiato de mal-entendido. Falar o que precisa ser falado. Sem deixar feridas escondidas.

Duas: para quem fica sem ter a pessoa querida fisicamente, é aceitar que ela vive dentro de si e que não mudou em nada o sentimento anterior à partida. Os exemplos e as histórias serão lembrados e é isso que vai tornando a pessoa, fisicamente ausente, viva dentro do nosso coração.

O mistério da fé é investir na sua vida, porque a maior perda da vida não é a morte, mas é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.

Dominguemos, amém!



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