As lives são o melhor do entretenimento em meio ao isolamento social

Legenda: Na live organizada por Lady Gaga, grandes nomes se apresentaram. No entanto, a sensação foi da falta de uma estrutura capaz de prender os espectadores
Foto: Foto: reprodução/ Global Citizen

Dos dias de quarentena em casa, grande parte deles são de procura. Um curso novo aqui, uma atividade física ali e um catálogo de séries nas incontáveis plataformas de streaming aculá. Se antes minha rotina estava cheia das tardes no cinema, atividade que acabou se tornando respiro e diversão em meio aos dias agitados, agora são as experiências pelas telas menores que têm tornado minha relação com o entretenimento mais próxima. O que me possibilita escrever aqui, por exemplo.

Mas se tudo tem mudado, a coluna de hoje também vai nesse caminho. Sai do espectro do cinema, das séries, novelas e afins. Isso porque um dos grandes atrativos de entretenimento dos últimos dias tem se baseado na enorme quantidade de lives, apresentações disponibilizadas por cantores e artistas nas redes sociais e no Youtube. Se eu mesma fosse fazer uma lista das que já tive a oportunidade de acompanhar, com toda certeza contabilizaria mais de dez. 

Na música, do sertanejo ao pop, do nacional ao internacional. No cinema, filmes com estreia nas plataformas de streaming. A internet parece ter se expandido como uma oportunidade de levar música, teatro, exposições, performances circenses e diversas outras vertentes artísticas em todo mundo. Aqui no Brasil, os "shows virtuais" têm chamado mais atenção, com números expressivos e quebradores de recorde online. Você com certeza deve ter compartilhado com amigos, ainda que virtualmente, momentos acompanhando as apresentações como as de Roberto Carlos, Fagner, Gusttavo Lima. 

Que as redes sociais já poderiam ser ferramentas de aproximação já era claro, mas perceber que poderiam ser sinônimo ainda maior de acesso à arte, em um momento complicado como esta pandemia, além de potencializar a necessidade da situação em nosso país, virou uma surpresa das boas. O espaço pode ser uma abertura até mesmo para artistas menores, que tiveram de lidar com a falta dos rendimentos nas últimas semanas. 

Ainda assim, não dá pra deixar de analisar os estilos de entretenimento. No meio disso, confesso, me peguei refletindo como diversos artistas tem feito algo diferente, ganhando ou não a afeição do público nas redes. Talvez perceber as nuances das performances musicais, por exemplo, tenha sido um dos assuntos mais comuns na internet nos últimos dias.

Entre apoio e engajamento

Enquanto alguns insistem nos números, apostando em horas a fio ao vivo para bater recordes, há quem ganhe o público pelo carisma ou até mesmo pela sensibilidade. Deixo aqui um marco: a primeira live a atingir números estratosféricos de público foi a apresentação virtual da dupla Jorge & Mateus. Diante dos milhões de espectadores, eles se juntaram para entoar os maiores sucessos da carreira que, inclusive, há anos impera para os amantes do sertanejo, mas não foram nem de longe o que mais empolgou.

Receberam críticas corretas por conta da aglomeração para montar a estrutura, o que é quase inaceitável diante do cenário no país, mas tocaram na nostalgia. No fim, o balanço foi até positivo e ainda abriu o precedente de uma marca a ser batida.

Do lado mais polêmico, lives como a de Gusttavo Lime a Bruno e Marrone chamaram a atenção por motivos que, para mim, não passam de fatores negativos. Mesmo com um repertório digno de se escutar por horas, foi a forma exagerada de chamar a atenção que talvez tenha deixado de lado o foco no artístico. O resultado foi que se comentou da bebedeira intensa ou das frases equivocadas sobre o cenário político e pouco se discutiu sobre a música.

Um dos destaques do fim de semana, que chamou atenção de forma diferente, foi a live produzida por Lady Gaga, que reunia nomes como Paul McCartney e Sir Elton John. Apesar disso, participações bem intecionadas, claro, mas que não funcionaram bem como entretenimento. Os depoimentos extensos e as apresentações musicais curtas extiguiram quase todo o encanto da iniciativa feita em parceria com a Organização Mundial de Saúde. 

Mesmo assim, ficaram as doações e mais uma lista extensa de outras que ainda devem ganhar os usuários das redes sociais. No fim das contas, junto das séries e dos programas de TV, que ganharam audiência como nunca, as lives devem continuar durante este tempo como um sinal das incertezas do futuro próximo.