'Adoráveis Mulheres' é marca da consolidação de Gerwig e traz brilho de Saoirse Ronan

Longa que faz adaptação ao livro publicado por Louisa May Alcott tem narrativa consolidada no cuidado com os detalhes

Legenda: Das quatro, Saoirse e Florence são destaque natural
Foto: Foto: divulgação

A temporada de premiações começou (e já está quase no fim) trazendo a confirmação de grandes trabalhos no cinema e, nos últimos dias, a busca para completar a lista dos assistidos tem sido cada vez mais intensa. No meu caso, "Adoráveis Mulheres" ainda não tinha estado em evidência tão grande no radar dos possíveis premiados e me dei a chance de conferir o novo trabalho de Greta Gerwig, que fez estreia como diretora com "Lady Bird: A Hora de Voar" e agora retorna tanto no comando da direção como do roteiro, em uma sala de cinema lotada, ainda que a sessão fosse a mais tarde do dia.

De cara, um elenco que chama a atenção pelos rostos conhecidos e consagrados no cinema. Laura Dern e Meryl Streep, por exemplo, estão impecáveis como a matriarca da família March, Marmee, e a complicada tia March, respectivamente. Entre as caras mais jovens, Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen, com um destaque considerável para a primeira, são outra aposta certeira para interpretar as "Mulherzinhas", título dado ao livro original na história escrita por Luisa May Alcott e lançado pela primeira vez em 1868. Dando vida a Jo, Meg, Amy e Beth, irmãs protagonistas, elas fluem em meio ao roteiro e emocionam até o espectador mais desavisado.

Pelos olhos de Gerwig, começamos a acompanhar a vida das quatro irmãs em meio a dois períodos. No primeiro, as quatro iniciam a adolescência e sentem o despertar para o amor, para as artes e, acima de tudo, as dificuldades em meio ao cenário de Guerra Civil e a falta da presença do pai no ambiente familiar. Já no segundo, separadas e novamente reunidas por uma possível perda, as quatro jovens vivenciam o peso do início da vida adulta e de como as pressões sociais afetam as decisões e rumos da vida de uma mulher. 

É nesse momento onde a direção segura de Greta se mostra cuidadosa aos detalhes da história. Se no início é difícil se agarrar ao fio de condução do longa, cada minuto passado em tela forma uma narrativa maior e as escolhas sobre como retratar a história se mostram mais do que acertadas no fim do mesmo.

Até a fotografia é capaz de colaborar para a imersão completa: cenas quentes e vívidas dão a impressão de um momento áureo na vida das March, enquanto ao futuro sobram os tons frios e cenários carregados para agregar à atmosfera densa da nova fase.

Cabe destacar a importância de Saoirse nisso tudo. A segunda atriz a interpretar a impávida Jo – coube a Winona Wyder a tarefa na primeira adaptação em 1994 – Ronan encontra a linha certa para conduzir a protagonista e ganha a empatia do público em poucos segundos de tela.

A personalidade forte da irmã mais velha é evidenciada em todas as cenas e a identificação com o espírito da jovem é tão grande que até as decisões mais questionáveis da mesma não prejudicam na hora de apoiá-la. Deixo aqui também a admiração pela atuação de Florence Pugh. Se Amy é a mais mimada das quatro, ainda é possíver torcer por ela no fim das contas. Inclusive, o Laurie de Timothée Chalamet se encaixa na mesma percepção.

O balanço, claro, é positivo. Não à toa, o longa abocanhou indicação a Melhor Filme no Oscar. Ainda que as chances não sejam tão grandes de receber o prêmio na cerimônia no próximo dia 9 de fevereiro, ele marca a consolidação de Gerwig e faz jus a uma das obras literárias mais clássicas do século XX.