Esse texto de hoje é pra quem mudou de cidade, país e de lugar em geral. Deixo claro desde já, porque haverá entendimento comprometido desse texto da parte de quem nunca mudou. É meio algo que só sente quem tá vivendo. Uma parte tentativa de pertencer, outra parte de saudade.
Três anos e meio é o tempo que me mudei pra Recife. Tantas coisas aconteceram. Às vezes parecem 7 anos e às vezes 6 meses. Às vezes parece que não me mudei e tenho passado apenas temporadas aqui, às vezes parece que Fortaleza não é mais o meu lugar.
Há o adicional medo em dobro quando o nos mudamos depois dos 30. É como se, na nossa cabeça, ele representasse, desde muito novos, algum tipo de estabilidade, amizades feitas e antigas, trabalho de anos, um café ou cerveja com aqueles velhos amigos depois do trabalho.
É difícil estar em um novo lugar depois das mesmas pessoas na nossa vida. Elas se acostumaram com a gente. Difícil pensar em apresentar nossa simpatia matinal e defeitos pra outras pessoas a essa altura. Difícil provar quem eu sou num novo emprego depois de já ter os meus no antigo. No meu caso, pedi demissão e vim. Todos sabem que vim porque conheci um cara muito legal que hoje é pai da minha filha e meu noivo. Valeu a pena mas há algo nosso, somente nosso, que precisa florescer.
Há uma resistência, uma impaciência. Mas há também a maturidade de saber que não dá pra não pertencer ao lugar que decidimos ser nossa casa. O grande desafio é transformar em lar.
Há 3 anos, esse assunto sempre cai na terapia. Nossa última conversa sobre isso foi hoje. E olha, não sou de longe, a pessoa mais popular de Recife, mas me matriculei na academia.
Eu e minha vontade de pertencer sabemos que precisamos de um tempo e espaço só nossos. Pra que a gente tenha nossa própria ficha de academia, nosso novo professor de muay thai, o aniversário mais reservado e especial mesmo com poucos.
Também o novo restaurante favorito, o hábito nunca criado na cidade passada de tomar café e depois ir andar na praia – lá onde vivia era super longe do mar - e os nossos próprios recordes pessoais no novo local da natação.
A tentativa tem sido boa, amar a minha própria companhia me encoraja. Aqui, nesse lugar, que poderia ser Recife ou Tokio.
Às vezes falto a academia, às vezes saio revigorada. Tem sido mais revigorante do que difícil. Porque aqui estou eu, ainda com dificuldades, tentando pertencer. Tem que querer mesmo, pertencer não é algo que podem fazer por nós.
Tem sido um desafio, tem sido engrandecedor, tem sido solitário às vezes, tem sido o que precisa ser agora. O meu lar e o meu lugar de felicidade – essa que carrego – como der, pra qualquer lugar que eu for.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.