PT Ceará expulsa vereador réu por tentativa de feminicídio, mas os políticos não falam disso

No dia seguinte, vereador discursou na Câmara sobre eleições na América Latina e gestão do MEC

Legenda: Ronivaldo Maia acompanha pronunciamento de Carlos Mesquita em seu favor após expulsão do PT
Foto: Érika Fonseca / CMFor

Em um processo que se arrastava há meses no PT Ceará, o vereador de Fortaleza Ronivaldo Maia foi expulso do partido, na noite da quarta-feira (23), em processo disciplinar. Cabe recurso à Executiva Nacional. O petista foi preso em flagrante, no final do ano passado, por tentativa de feminicídio - crime sob investigação.

De forma semelhante ao que aconteceu por quase todo o processo, a maioria dos correligionários, lideranças partidárias e colegas de parlamento finge que nada aconteceu, como se não houvesse gravidade alguma haver, no Poder Legislativo municipal, um representante da população expulso de um partido e investigado por agressão a uma mulher.

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Na Câmara Municipal, onde a Comissão de Ética arquivou pedido de cassação de mandato, nada se falou. O próprio Ronivaldo usou a tribuna da Casa duas vezes nesta quinta-feira (23), com discurso sobre vitória de campanhas de esquerda na América Latina, a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e o histórico de ministros da pasta no Governo Bolsonaro.

O vereador Carlos Mesquita (PDT) fez menção ao caso, mas para defender Ronivaldo. "Eu até já passei por isso", chegou a dizer. O vice-presidente, Adail Júnior, também se "solidarizou" com Ronivaldo.

Na Assembleia Legislativa, também não. O deputado do PT, Acrísio Sena, discursou por cerca de 20 minutos, mas passou longe de fazer menção ao assunto. O mesmo aconteceu no discurso da deputada Augusta Brito (PT), que encabeça os trabalhos da Procuradoria da Mulher na AL-CE.

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Nas redes sociais do partido e dos petistas, só a vereadora Larissa Gaspar de manifestou.

"A luta é pela vida das mulheres, não toleramos nenhuma forma de violência contra a mulher, seja ela cometida por quem for", disse em publicação no Instagram. 

O silêncio não diz respeito apenas à figura de Ronivaldo, mas à fragilidade do combate à violência contra a mulher - justamente em um período de ampla comoção com a agressão sofrida por uma procuradora de São Paulo por um colega de trabalho e seu subordinado. Um caso que mostra que a crença na impunidade é tão grande que a violência acontece no ambiente de trabalho, sob o olhar de testemunhas.

É aquela clássica e tão repetida frase atribuída a Martin Luther King: "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... o que me preocupa é o silêncio dos bons".

Fazer post nas redes sociais contra as violências sofridas pelas mulheres em datas simbólicas é fácil, difícil é se posicionar sem medo de desgastes partidários ou de julgamento dos pares.