Desde abril de 2021, quando o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) contratou o marqueteiro João Santana para sua pré-campanha a presidente da República, a "vibe" do pré-candidato mudou nas redes sociais.
O "Cirão das massas" de 2018 deu lugar a uma nova identidade visual e a uma linguagem inspirada na cultura da internet e dos games. O que já parecia ter foco no público jovem se materializa agora no slogan "Ciro, a rebeldia da esperança".
Em nova ofensiva para tentar chegar a dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto, Ciro mira a artilharia especialmente no valioso eleitorado jovem. Em 2020, o público de 16 a 24 anos representou cerca de 20 milhões de votos no país, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A pesquisa “Crise da Democracia e extremismos de direita”, de 2018, da professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Esther Solando, mostrava que o então pré-candidato Jair Bolsonaro encarnava os anseios dos jovens justamente por "rebeldia na política".
"Jovens identificam o Bolsonaro como rebelde, como uma opção política que se comunica com eles e se contrapõe ao sistema, como uma proposta diferente. Se nos anos 70, ser rebelde era ser de esquerda, agora, para muitos destes jovens, é votar nesta nova direita que se apresenta de uma forma cool, disfarçando seu discurso de ódio em formas de memes e de vídeos divertidos", diz o texto da pesquisa.
Ciro, que se apresenta como candidato de centro-esquerda, tem abraçado a estratégia com mais intensidade nos últimos meses. Em setembro, focou no slogan "prefiro Ciro". Agora, ao oficializar a pré-candidatura a presidente, o ex-ministro aposta em reforçar uma imagem daquele que vai "contra" o establishment, as lideranças políticas atuais e o sistema econômico atual.
"Rebeldia e esperança são as duas únicas energias capazes de tirar o nosso Brasil das trevas e da e da estagnação onde nos encontramos hoje", disse Ciro ao iniciar seu discurso na convenção do PDT nesta sexta-feira (21).
Ciro, no entanto, não pode falar como se não fosse parte da política brasileira nas últimas décadas. Ainda que sem cargo ou mandato em alguns períodos, é líder nacional e estadual de dezenas de correligionários.
O discurso de "rebeldia" e de "esperança" - tão complexo e tão arraigado à juventude - não convence se ficar apenas nas lives, slogans e peças publicitárias nas redes sociais.
Há uma chave a ser virada no desempenho dos candidatos que se colocam como terceira via para que se tornem competitivos de fato em seus discursos políticos, mas a corrida, por enquanto, ainda é por encontrá-la.