Faltou firmeza a Sérgio Moro

A força-tarefa do Governo Federal que passou pelo Ceará no meio do Carnaval pode ser dividida em duas frentes, levando-se em conta os posicionamentos públicos: uma destacando a necessidade de cumprimento da Constituição e a outra de com afagos políticos. O movimento de policiais militares no Estado tem sido marcado por atos políticos simbólicos e de todas as esferas. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e o advogado Geral da União, André Mendonça, clamaram para que os amotinados retomem as atividades pelo bem da sociedade cearense, sempre deixando claro os ditames constitucionais que proíbem a possibilidade de greve de militares. Até aí tudo bem.

Moro de outrora

Já o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, veio ao Ceará com um personagem diferente de outrora. Ao julgar os processos na Operação Lava-Jato, ainda como juiz federal, ele ficou conhecido pela intransigência no cumprimento da lei, levando absolutamente tudo ao pé da letra. Em passagem por Fortaleza, porém, o agora ministro não deu uma palavra para reafirmar o “império da lei”, que o caracterizou e deu a ele prestígio em todo o Brasil. Moro não proferiu uma palavra para, mesmo em tom conciliatório (que o momento exige, diga-se de passagem), ponderar que o movimento ocorre ao arrepio da Constituição. Coube a ele o papel mais político.

Prestígio zero

O deputado estadual Delegado Cavalcante é uma fera na tribuna da Assembleia Legislativa para defender o Presidente Jair Bolsonaro e o Governo Federal. Na segunda-feira, em passagem pelo batalhão ocupado pelos policiais militares amotinados, ele reclamou de não ter falado com os ministros Sérgio Moro e Fernando Azevedo. Disse o parlamentar que tentou de tudo e não conseguiu. Sem prestígio nenhum no Governo Federal apesar de tudo, resolveu culpar o governador Camilo Santana que, segundo ele, “blindou os ministros”. Risos em meio ao caos.

Lavou as mãos

Chamou atenção de todo o Ceará, a ausência quase que geral da bancada de deputados federais nas negociações durante o movimento dos policiais militares. Isso é tema para uma abordagem posterior. Mas algumas figuras ficaram mais marcadas pela inoperância. Defensor das armas, do estado policial e do bolsonarismo, de quem se dizia o representante maior no Ceará (versão que cairia por terra após saia justa com o presidente) Heitor Freire (PSL) encarnou o Pôncio Pilatos alencarino. Lavou as mãos e foi curtir o Carnaval em Jericoacoara, enquanto Fortaleza quase pegava fogo. Prioridades.

Assembleia Legislativa está com tudo pronto para tramitar – e aprovar – o projeto com a reestruturação salarial para policiais militares e bombeiros. O presidente da Casa, José Sarto, no entanto, condiciona o avanço da proposta ao fim do movimento dos policiais militares que chega, hoje, ao 9º dia.

Desfecho do movimento que é urgente, pelo bem da sociedade cearense, é aguardado no Brasil inteiro. Há receio dos governadores de outros estados de que, caso o Estado seja complacente com crimes, os movimentos se espalhem por todo o País, o que seria muito ruim.