Deputados e o dilema da doação

Ao apresentar uma emenda ao projeto do governo que incentiva doações da iniciativa privada ao sistema público de saúde e aos profissionais que estão à frente do combate ao coronavírus, o presidente da Assembleia, José Sarto (PDT), cumpriu o seu papel: criou um mecanismo legal para que os parlamentares pudessem doar parte dos salários para o enfrentamento da pandemia. Entretanto, a despeito de, naturalmente, serem voluntárias as doações, o projeto aprovado, ontem, foi assunto de conversas de bastidores.

Num momento em que a sociedade cobra que a classe política demonstre estar disposta a cortar na própria carne para ajudar, há dúvidas sobre como proceder. Alguns parlamentares têm empréstimos consignados ativos, ou seja, dizem ter pouca margem para doar. Outros, pagam pensões, descontadas dos salários. A possibilidade de doar, aberta pelo dispositivo legal, acabou gerando uma dor de cabeça aos deputados.

Mensalidade escolar

Os deputados estaduais voltam a se reunir, hoje, remotamente, para tratar de um assunto polêmico e que afeta o dia a dia de milhares de cearenses: debate sobre mensalidades nas escolas particulares. Há três projetos em tramitação que propõem redução dos pagamentos e muita divergência. Os deputados querem unificar as propostas, aprovar o texto nas comissões e votar em plenário na semana que vem. OAB, Ministério Público e Defensoria também estarão envolvidos.

Afinado com o planalto

Secretário do Tesouro Nacional, o cearense Mansueto Almeida não costuma fugir dos temas importantes, mas não se mete em polêmica vazia. Ontem, em videoconferência promovido pelo LIDE Ceará, Mansueto ouviu críticas à ausência de coordenação do governo federal na condução do debate econômico feita pelo economista Marcos Lisboa, e uma outra cobrança do senador Tasso Jereissati sobre o lançamento de um programa de investimento feito no dia anterior "pelos generais", segundo Tasso. Mansueto defendeu como um mantra a pauta de reformas, apontou caminhos para a crise e disse a Tasso que o evento dos generais pode ter sido um "ruído de comunicação". Ao fim, o senador disse, em tom de brincadeira, que Mansueto aprendeu com os políticos e sugeriu que ele poderia sair candidato. Em tom descontraído, Lisboa concordou e Mansueto negou.

Ainda sobre isolamento

O senador Tasso tem defendido a tese de que as decisões sobre a saída do isolamento social precisam estar nas mãos dos técnicos da Saúde. Ontem, quando questionado, ele disse, em um evento para empresários, que "flexibilizar regras de maneira precipitada pode ser um desastre para os cearenses". Ele concordou, entretanto, com a criação do grupo para planejar a reabertura gradual.

Governismo real

Ao cortejar o "Centrão", o presidente Bolsonaro sinaliza que quer abrir diálogo com o Congresso. Formar base não só não é crime, como é fundamental para o governo. Entretanto, a aproximação com figuras como Roberto Jefferson afeta a narrativa "antissistema" defendida por ala radical dos aliados. Na Câmara, Bolsonaro nunca cumpriu esse papel.