Projeto S. Francisco: o alto custo da água

Para 15 empresários da indústria e da agricultura com os quais se reuniu ontem, o secretário de Recursos Hídricos do Governo do Ceará, Francisco Teixeira, disse que a raquítica outorga de 26 metros cúbicos por segundo concedida pela Agência Nacional de Águas (ANA) ao Projeto São Francisco de Integração de Bacias é hoje, e será amanhã, insuficiente para o atendimento das necessidades sociais e econômicas do semiárido dos quatro estados beneficiados (CE, RN, PB e PE).

Ele chamou a atenção para o fato de que, com a mudança climática causada pelo aquecimento global, "que é um fato inconteste", a pluviometria no Nordeste - o Ceará no meio - desceu a níveis franciscanos, tornando difícil a recarga dos grandes açudes.

"Neste ano, observa-se mais uma vez a má distribuição espacial e temporal das chuvas. Chove bem aqui, mas não chove ali", disse Teixeira, para quem o Projeto São Francisco é vital para garantir a oferta hídrica para o consumo humano, para a dessedentação animal e para a atividade econômica na cidade e no campo.

"Mas isso só será possível com a revisão da outorga", afirmou o secretário.

Então, há que dobrar a outorga para 50 metros cúbicos por segundo (metade para cada um dos canais Norte e Leste), e isso já pode ser feito agora, pois a barragem de Sobradinho, de onde sai a água, está hoje com 51% de sua capacidade total de 34,1 bilhões de metros cúbicos, devendo, em abril, alcançar 68%.

Essa providência será facilitada por um motivo: a chegada do potiguar Rogério Marinho ao comando do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) ao qual está agora vinculada à ANA.

Todavia, há pedras no meio do caminho das águas do Projeto São Francisco.

Duas delas: o alto custo da energia - R$ 150 milhões por ano - e a complementação do projeto, com a instalação de mais duas bombas em cada uma das suas nove estações elevatórias (três no Canal Norte e seis no Canal Leste), o que custará cerca de R$ 700 milhões.

O secretário Teixeira perguntou aos empresários que o ouviam: "A indústria e a agropecuária estarão dispostos a pagar o custo da água?"

Fez-se silêncio na sala.

Agronordeste

Rápido no gatilho, o cearense Danilo Forte, coordenador do Agronordeste, manda dizer a esta coluna o seguinte - a respeito de nota aqui publicada:

1) Ele, pessoalmente, convidou por telefone o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Quixadá para a última reunião do Agronordeste naquela cidade;

2) O BNB voltará a financiar as Cooperativas de Crédito ligadas à agropecuária;

3) Foram liberados R$ 7 milhões para a Embrapa Caprinocultura, em Sobral;

4) O capítulo cearense do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-CE) está proovendo cursos ´para qualificar técnicos para a assistência rural.

Pouca Chuva

Paulo Selbach, sócio e diretor da Itaueira Agropecuária, revela que, na Serra da Ibiapaba, onde sua empresa cultiva pimentões coloridos, “tem chovido muito pouco”.

Ele lembra que, se o açude Lontras já tivesse sido construído, a Ibiapaba teria hoje mais 340 milhões de metros cúbicos de água represados e 10 mil hectares irrigados.

O Lontras foi projetado há 20 anos, e permanece no papel.