Pesca do atum: Ceará pode ter disputa entre espanhóis e portugueses 

Projeto de R$ 100 milhões da espanhola Jaelsa depende do aumento de suas exportações, que depende de autorização do Ministério da Agricultura, até agora não concedida.  

Berlim (Alemanha) – Pedindo o anonimato, uma fonte empresarial ligada ao setor pesqueiro cearense e presente na Fruit Logistica – maior feira de frutas do mundo, que se realiza nesta capital – disse a este colunista que o projeto da espanhola Robinson Crusoé de ampliar seus investimentos no Ceará, construindo duas fábricas na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém – uma de latinhas de conserva e outra de beneficiamento de atum e outros peixes - poderá enfrentar uma dura disputa com seus concorrentes portugueses, que, com atuação em Santa Catarina, também pensam em  investir no litoral de São Gonçalo do Amarante. 

A Robinson Crusoé, controlada pelo grupo Jaelsa, com sede na Galícia, já tem uma pequena fábrica de beneficiamento de atum em São Gonçalo do Amarante, a qual faturou, no ano passado, R$ 125 milhões, podendo neste ano de 2020 chegar a uma receita de até R$ 175 milhões. 

Para que esse incremento aconteça, é necessária uma autorização do   Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para aumentar a sua quota de exportação, o que depende de uma decisão da ministra Tereza Cristina. 

Segundo a fonte desta informação, até agora a Secretaria de Pesca do Mapa – dirigida, coincidentemente, por um catarinense – tem negado à Robinson Crusoé autorização para o aumento de sua exportação de atum.  

Sem essa autorização, o projeto da empresa espanhola pode nem sair do papel. 

Pelo andar da carruagem, avizinha-se uma guerra ibérica pelo direito de explorar o potencial pesqueiro do Ceará, não só na captura, mas também no beneficiamento do pescado com foco no atum.  

Os portugueses – que lideram o setor da pesca em Santa Catarina – querem também investir na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, mais precisamente na instalação de um terminal pesqueiro e de uma fábrica para beneficiar não só o atum, mas outros peixes. 

Até agora, porém, não há, nesse sentido, demanda dos lusitanos junto aos organismos do governo do Ceará - Adece e Secretaria Executiva do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedet). 

Mas este colunista pode informar que o governo do Ceará acompanha de perto a questão.  

Na segunda-feira passada, dia 3, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Maia Júnior, e seu secretário executivo do Agronegócio, Sílvio Carlos Ribeiro, celebraram, na Galícia, um Memorando de Entendimento com o grupo Jaelsa, por meio do qual sua controlada Robinson Crusoé administrará – em próprio cedido pelo governo cearense – uma escola de pesca, que formará marinheiros e pescadores profissionais. 

Além disso, o grupo Jaelsa também operaria um terminal pesqueiro no Complexo do Pecém, usando barcos de sua frota equipados com o que há de mais moderno na tecnologia de localização dos cardumes, na sua captura e no seu armazenamento. 

Esse projeto espanhol tem assustado os portugueses que atuam em Santa Catarina e que querem, também, entrar na pesca e no beneficiamento do atum capturado na costa cearense.  

“É uma briga de gente grande, que vai ser ampliada com a próxima chegada de um grupo norte-americano, cuja identidade ainda é mantida em sigilo, que, igualmente, quer investir na construção de um terminal pesqueiro na área do Porto do Pecém, na construção e gestão de uma escola de pesca e na utilização de uma frota de pelo menos 20 barcos equipados com a última tecnologia de localização de cardumes e de armazenamento do pescado”, disse a este colunista – em uma troca de mensagens - uma fonte empresarial que acompanha esta questão.