Perto de verter, Sobradinho jogará água no mar, se ANA não intervier logo

Agropecuaristas do CE, RN, PB e PE movimentam-se para pressionar a liderança política do Nordeste junto à ANA no sentido de aumentar a vazão dos canais Norte e Leste do Projeto S. Francisco de Integração de Bacias dos atuais 26,5 m³/s para 100 m³/s..

Exclusivo! Empresários da agropecuária cearense estão iniciando hoje um movimento junto às lideranças políticas do Ceara e dos outros estados beneficiados pelo Projeto São Francisco de Integração de Bacias (Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) no sentido de que a Agência Nacional de Águas (ANA)  aumente a outorga de água para os canais Leste e Norte daquele  empreendimento.

A razão do movimento é o fato relevante de que a barragem de Sobradinho já está acumulando quase a sua capacidade total de 32,5 bilhões de m³ de água. Essa água - quando as comportas da barragem forem abertas para o vertimento - será despejada no oceano, na foz do rio, entre Sergipe e Alagoas, sem que tenha cumprido qualquer finalidade social ou econômica.

Neste momento, por causa da paralisia nacional das atividades econômicas, principalmente as industriais, o consumo de energia caiu espetacularmente, ao mesmo tempo em que, por decisão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as termelétricas – cuja energia custa caro – seguem operando normalmente, como as duas do Complexo do Pecém, ambas movidas a carvão mineral importado.

Por outro lado, os parques de geração de energia solar e eólica também continuam operando normalmente, injetando o que produzem na rede do Sistema Elétrico Nacional (SIN).

Tem mais: dentro de 90 dias, os ventos na região Nordeste, como sempre acontece nesta época do ano, aumentarão a sua intensidade, o que dobrará a geração de energia eólica.

Os agropecuaristas cearenses entendem que a ANA deve ampliar, o quanto antes, a outorga de água para o Projeto São Francisco de Integração de Bacias.

Hoje, essa outorga é de apenas 26,5 m³ por segundo, mas os produtores do Ceará, Rio Grande do Norte (atendidos pelo Canal Norte), Pernambuco e Paraíba (abastecidos pelo Canal Leste) querem que essa outorga, nestes tempos de cheia no Sobradinho e de baixa geração hidrelétrica por causa da queda do consumo, seja aumentada para 100 m³/s.

Essa ampliação da vazão nos canais Leste e Oeste do Projeto São Francisco permitirá que os açudes beneficiados pelas águas do Velho Chico, como o Castanhão, no Ceará, e o Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte, sejam recarregados em pouco tempo, assegurando água para o consumo humano, para a dessedentação animal e para as atividades econômicas.

Um grande agricultor cearense disse nesta terça-feira, 14, a esta coluna que “os pernambucanos, os paraibanos, os potiguares e os cearenses estamos na seguinte situação: temos água em abundância no Sistema do rio São Francisco e não sabemos o que fazer com esse excesso”.

Ele acrescentou: “Não podemos gerar mais energia nas hidrelétricas da Chesf, porque o consumo caiu extraordinariamente por causa do coronavírus. E não podemos permitir que essa água que está sobrando seja jogada dentro do mar. Então, temos de pedir que a Aneel, a ANA, a Chesf e o Operador Nacional do Sistema Elétrico tomem uma providência inteligente e rápida para que não se desperdice tanta água acumulada na barragem de Sobradinho”.