Ideologia invade agronegócio no Ceará

Empresários do setor agropecuária desconfiam de que o Executivo e o Legislativo cearenses não querem empresas agrícolas, só as industriais.

Criativo, o empresário cearense enfrenta e vence desafios. Sua última vitória contra as precárias condições objetivas de produzir na geografia do Estado do Ceará acaba de ser conquistada pelo industrial Alexandre Sales, que agora se dedica, também, à agricultura: ele está produzindo e colhendo a primeira safra de trigo em Tianguá, na serra da Ibiapaba, e na Chapada do Apodi.  

É a principal notícia produzida pelo agronegócio cearense neste difícil ano de 2019. Ela é uma prova extraordinária da incrível capacidade de quem investe no setor primário da economia deste Estado, que tem 95% de seu território encravados no semiárido. É mais uma fronteira agrícola que se abre no Ceará.

Estas boas novas surgem no exato momento em que a Assembleia Legislativa - onde o Executivo domina 39 dos 46 votos dos deputados estaduais - ergue-se contra as empresas que produzem e dão emprego no campo a milhares de pessoas, principalmente na fruticultura. 

No fim do ano passado, no último dia da sessão legislativa, os deputados estaduais aprovaram um projeto, transformado em Lei pela sanção do governador Camilo Santana - proibindo a pulverização aérea em todo o Ceará. Mesmo advertido para as graves consequências sociais e econômicas desse projeto, o Palácio da Abolição considerou-o de interesse para o desenvolvimento estadual.

Poucos meses depois, aconteceu o previsto: a sigatoka amarela - uma danosa praga que, no mundo todo, ataca a bananeira - invadiu as áreas de produção de banana nos municípios da região do Cariri, no Sul cearense. Proibidas de fazer pulverização aérea, as empresas tiveram de assistir à destruição de suas plantas. Diante do prejuízo, sobrou para as empresas uma triste providência - a demissão de centenas de trabalhadores empregados em suas fazendas.

A região do Cariri é a base política do governador Camilo Santana e de vários deputados que lhe dão apoio no Legislativo.

Detalhe: na Costa Rica e no Equador, grandes produtores munidiais de banana, fazem-se até duas pulverizações aéreas por semana. Aqui no Ceará, e somente nos anos de muita chuva, quando cresce a umidade do ar, faziam-se, no máximo, duas aplicações por ano. Por ano!

Nreste momento, tramita na Assembleia Legislativa outro projeto com idêntico DNA ideológico do que proibiu a pulverização aérea. A proposta quer impedir o uso de um defensivo agrícola - utilizado largamente no Brasil e no resto do mundo - sob o argumento de que ele põe em risco a vida das abelhas. Não é verdade, e aqui está uma prova: a Agrícola Famosa, com fazenda de produção em Icapuí, no Leste cearense, é a maior produtora e exportadora brasileira de melão, Pois bem: ela tem 6.500 colmeias para garantir a polinização das flores de suas plantas. 

"Sem abelha não há nem haverá frutas", afirmam Luiz Roberto, sócio e diretor da Agrícola Famosa, e Tom Prado, CEO da Itaueira Agropecuária, segunda maior produtora brasileira de melão, que tem 2.500 colmeias. 

Como o Executivo tem esmagadora maioria no Legislativo estadual, desconfiam os empresários do agronegócio de que o Governo do Ceará não quer empresas agrícolas, só as industriais. 

Este colunista pode informar que, neste momento, há intensos entendimentos no sentido de superar as atuais dificuldades.