Dr. Cabeto desabafa: 'O Covid deixará marcas indeléveis na sociedade'

"Entenderemos que a crise não se deve somente ao Covid. Pois, algumas de nossas empresas, grandes e pequenas já sofriam com a transição de modelos econômicos e de desenvolvimento do mundo atual", diz o secretário de Saúde do Ceará..

Em um texto reflexivo que ele postou no começo da noite deste Domingo da Ressurreição de Cristo, o secretário de Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, adverte que a pandemia do coronavírus deixará marcas indeléveis na sociedade, "vai expor feridas como outrora aconteceu em outras tragédias".

De acordo com ele, o Covid-19 "vai expor a transição de uma era que já nos obrigava a mudanças no status quo".

Na opinião do Dr. Cabeto, "algumas de nossas empresas, grandes e pequenas, já sofriam com a transição de modelos econômicos e de desenvolvimento do mundo atual". 

O secretário de Saúde também afirma que terá de ser repensado "o modelo das cidades, não somente por entender, mas por perceber que essa exclusão geográfica e social terá um preço alto". 

Eis, na íntegra a reflexão do secretário Dr. Cabeto:

"Meus amigos, 

"Hoje vou fugir ao hábito! Vou me permitir algo mais direto, com emoção intensa, e sem a força da racionalidade. Não se trata de apelo ou mesmo de pedido de apoio. É apenas uma reflexão que, humildemente permito-me expor a vocês. Não se trata de um ato público ou político. Não exerço, neste instante em que escrevo,  a função de médico ou de secretário. Assim como varios de vocês exerço a função de amigo, pai e esposo. Assim, gostaria de esclarecer. 

"O Covid vai deixar marcas indeléveis a nossa sociedade! Vai expor as feridas como outrora aconteceu em outras tragédias. Permitam me,  a cada palavra que escrevo sinto a marca dos que se foram, dos meus pais e avós. É como se a saudade apertasse de novo, a dor e a solidariedade com a nossa história se confundem. 

"Vai expor a transição de uma era que já nos obrigava a mudanças no status quo. Na saúde obrigará mudanças na economia, na distribuição dos recursos públicos e privados. Seremos, finalmente, obrigados a restabelecer valores ao trabalho humano e a hierarquia de prioridades, que inequivocamente protegem os mais frágeis.

"Seremos mais conscientes do meu, do seu, e daremos possibilidade ao nosso, de forma objetiva na escolha da aplicação dos recursos e na análise dos modelos econômicos vigentes e suas contradições. Aproveitaremos a ciência para entender o passado e guiar o futuro, para nos desprover de preconceitos e falsos testemunhos.

"Entenderemos o ato de cuidar e suas relações com a história do sofrimento humano. Pois, se assim não for, seremos somente expectadores do passar e não compreender, não entenderemos essa transição, que crise após crise nos é exposta.

"Acho que repensaremos o modelo das cidades, não somente por entender, mas por perceber que essa exclusão geográfica e social terá um preço alto! Entenderemos que a crise não se deve somente ao Covid. Pois, algumas de nossas empresas, grandes e pequenas já sofriam com a transição de modelos econômicos e de desenvolvimento do mundo atual.

"É bem verdade que o dinheiro muda de mão. Difícil mesmo é entender que a Amazon sozinha tem mais valor de mercado que quatro das maiores indústrias automobilísticas.

"E mais, como usar democracia e as relações diplomáticas para reduzir as feridas. Vivemos uma guerra, sem duvida, mas não é só do Covid. A guerra sempre representa a exaustão dos sistemas e suas adaptações. O sofrimento, é óbvio, arrasta-se nas disparidades, expõe-se pelo medo, pelo bloqueio das fronteiras, pela forma como tratamos a imigração.

"Não temos outra opção que não seja ceder, quedar ao sacrifício para restabelecer as vidas, ou até mesmo reduzir essa passagem.

"Não sei quanto durará. Será maior que a quarentena e menor que a eternidade. A escolha tem parte nossa, o preço está posto. 

"Desculpem me a franqueza. Trata-se somente de uma forma bem pessoal, que agora me permito.

"Não é um desabafo, é a percepção da angústia do passado e a possibilidade de transformar o futuro.

"Muito obrigado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Cabeto ou Carroberto, para os amigos)