Ontem, quinta-feira, dia 28 de novembro, foi outro dia de fortes emoções no mercado financeiro, que reagiu mal ao pacote de corte de gastos do governo, anunciado na véspera e confirmado na manhã de ontem por uma entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Os operadores do mercado, que são economistas que dirigem ou assessoram as empresas financeiras do país, ficaram decepcionados com as medidas anunciadas pelo governo.
O mercado esperava medidas que pudessem endereçar a dívida pública para uma trajetória consistente de queda. Na opinião dos economistas, a dívida pública vai aumentar e a sua relação com o PIB vai chegar logo aos 80%.
Falando ao Infomoney, um site especializado em economia, o economista Ruy Alves, sócio e gestor de multimercados da Kinea, disse que o governo perdeu a oportunidade de melhorar sua política fiscal. Ruy Alves afirmou:
“Na verdade, o cenário piorou, com uma desoneração do imposto para resolver uma demanda política. A dívida, que é o motivo da impaciência do mercado, segue sendo um problema”.
A Bolsa de Valores brasileira, a Bovespa, desmilinguiu e teve mais uma queda forte superior 2%, fechando o dia aos 125 mil pontos. O dólar disparou de novo e fechou cotado a R$ 5,98, depois de haver ultrapassado os R$ 6 durante o dia.
De acordo com os economistas, a decisão de anunciar a isenção do Imposto de Renda (IR) dos contribuintes que recebem até R$ 5 mil mensais, de forma concomitante com as medidas de corte de gastos, passou um sinal ruim para o mercado, enfraquecendo o próprio pacote.
Mas a reação do mercado ao pacote fiscal do governo está sendo exagerada. O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, falando ontem em São Paulo, disse que o pacote fiscal está OK, o que faltou foi comunicação. Esteve disse o seguinte sobre o atual cenário da economia brasileira:
“Deterioração de credibilidade é muito séria porque deteriora a credibilidade do (miniustro Fernando) Haddad e do (Gabriel) Galípolo (futuro presidente do Banco Central).
“Não estou vendo qualquer complexidade no Brasil. O PIB está crescendo, o desemprego está nas mínimas e as contas externas está OK. As reservas são liquidas. Sistema financeiro sólido e o sistema de capital está pujante. O Brasil está fácil. A fotografia está fácil.
“Estamos com expansão fiscal e taxa de desemprego baixa, criando pressão inflacionária diante de um BC que tem uma meta rigorosa de inflação. Tem que ser rigoroso mesmo. Temos um quadro desafiador, mas a resposta é óbvia: apertar o fiscal; no micro reduzir os programas sociais para aumentar a produtividade do trabalhador. Estamos com a menor taxa de desemprego. Não faz sentido. Se joga o contingente excessivo pra dentro do mercado e equilibra o fiscal, as coisas melhoram.
“Vamos fazer mais de R$ 400 bilhões de transferência de riqueza. Mais que a Noruega. Não está acontecendo nenhuma barbaridade nas empresas estatais. A situação é simples e fácil de resolver. O pacote foi OK. O que faltou foi comunicação.”
Bem, ainda, não se sabe o que poderá fazer o governo para reverter essa reação negativa do mercado às medidas do pacote fiscal. O Congresso Nacional, que terá de aprovar as medidas, começará a apreciá-las na próxima semana. Existe a possibilidade de as medidas não serem aprovadas neste ano. O recesso parlamentar terá início no dia 17 de dezembro.
Nos próximos dias 10 e 11 de dezembro, o Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central terá a última reunião deste ano, e o mercado aposta que a taxa básica de juros Selic será aumentada não em 0,50 ponto percentual, mas em 0,75 ponto percentual, como medida para frear a inflação, que segue subindo, e subirá mais com a explosão do dólar, pois ficará mais caro tudo o que é importado – desde o trigo até os princípios ativos dos medicamentos.
Para finalizar: ainda de acordo com o banqueiro André Esteves, o pacote do governo foi OK. O que faltou foi comunicação, e por esta razão o mercado financeiro está nessa balbúrdia.