Duas semanas e 3.200 quilômetros de viagens rodoviárias depois, encerrou-se ontem, com êxito, a Missão da Faec aos maiores projetos de irrigação e às maiores fazendas agrícolas da Califórnia (EUA), cujas práticas agrícolas e, principalmente, a gestão das águas transmitiram novos conhecimentos às lideranças da agropecuária cearense e, também, às autoridades da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Ceará.
“Estamos retornando com a bagagem repleta de novas ideias e certos de que, em curtíssimo prazo, revolucionaremos, com o apoio do Governo do Estado, a gestão dos perímetros irrigados do Ceará, começando pelo do Jaguaribe-Apodi, onde cresce em alta velocidade um polo fruticultor”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), Amílcar Silveira.
Detalhe importante: durante a viagem, nesta semana, o governador Elmano de Freitas conversou pelo telefone com o presidente da Faec, tratando de vários assuntos ligados ao agro cearense, incluindo a gestão das águas dos perímetros irrigados (o Ceará tem 14 perímetros, quase todos administrados pelo Dnocs, que, sem recursos e sem técnicos, tem dificuldade de gerenciá-los).
Usando quase as mesmas palavras, Salmito Filho, titular da SDE, afirmou que a Missão da Faec cumpriu seus objetivos, e tanto é verdade que ele antecipou uma boa notícia: na Chapada da Ibiapaba e na região do Cariri, “vamos plantar mirtilo”, uma fruta miúda, azulada, de alto valor agregado, queridinha dos consumidores da Europa e dos Estados Unidos. O Equador, seu maior produtor mundial, exporta anualmente 300 mil toneladas de mirtilos.
Por sua vez, o secretário Executivo do Agronegócio da SDE, Sílvio Carlos Ribeiro, doutor em agronomia, declarou-se feliz com os resultados da missão, que foi sugerida por ele, no ano passado, ao presidente da Faec, que a aprovou, incluindo na comitiva de 25 pessoas os presidentes das Federações da Agricultura do Rio Grande do Norte e do Distrito Federal.
Toda a extensa programação técnica da viagem foi elaborada e coordenada pela Universidade da Califórnia Davis, e esta foi a razão do sucesso da missão, que percorreu, em todas as direções, a área da moderna agricultura irrigada do estado da California, cujos agricultores tratam a água como se ela fosse um raro e valioso diamante.
Falando a esta coluna, Amílcar Silveira prestou o seguinte depoimento sobre a viagem:
“Nossa missão foi essencialmente técnica. Conhecemos e trocamos ideias com vários professores, visitamos os vários campi da Universidade da California, inclusive o de Davis, que deu o suporte técnico-científico à nossa viagem. Focamos nossa atenção nos grandes projetos de irrigação californianos, e posso afirmar que aprendemos muito sobre a gestão da água e, ainda, sobre a própria administração desses perímetros irrigados. O que aprendemos na viagem vamos levar para os perímetros irrigados do Ceará, que hoje são mal geridos e mal aproveitados, tanto na agregação de valores quanto na sua utilização. Estimamos que são utilizados só 30% das áreas dos perímetros cearenses.
“Então, temos de melhorar, e o primeiro passo é otimizar a utilização dos nossos perímetros. O segundo passo é agregar valor ao que é cultivado neles. Como ainda não demos nem o primeiro passo, temos de agir rapidamente.
“Estamos saindo da Califórnia com algumas ideias, entre as quais a de instalar, nos nossos perímetros irrigados, começando pelo da Fapija (no Apodi), um laboratório para buscar sua melhor eficiência hídrica e energética, para o que enviaremos técnicos da Faec e do Senar-CE (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para a Universidade da Califórnia David com o objetivo de capacita-los a manejar as melhores técnicas da moderna irrigação e do melhor controle e uso da água. Esses técnicos atuarão nos laboratórios que instalaremos em 4 dos 14 perímetros irrigados do Ceará. Para isso, vamos juntar esforços com o Governo do Estado e o Sebrae.
“Depois do que vi na Califórnia, não tenho dúvida de que podemos começar a mudar a economia agrícola do Ceará por meio da otimização da gestão dos nossos perímetros irrigados. A primeira coisa a fazer é utilizar 100% da área dos perímetros, e só aí teremos um ganho extraordinário.
“No próximo ano, não haverá mais a Missão Faec, mas uma Missão do Agro Brasileiro, pois reuniremos cinco Federações da Agricultura para cumprir o roteiro que cumprimos. Entendo que o que é bom para a Faec deve ser bom para todo o universo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).”
Por sua vez, o secretário Salmito Filho, sempre discreto, abriu a voz e o coração para externar sua alegria por conhecer os grandes empreendimentos da agricultura irrigada da Califórnia. Referindo-se à possibilidade de o Ceará passar a cultivar, também, frutas de alto valor agregado, que remunera mais e melhor o produtor, o secretário Salmito Filho disse:
“Além de remunerarem melhor, essas culturas geram mais emprego, constroem mais oportunidades produtivas e têm um impacto maior na economia do Estado. O exemplo está na Califórnia, onde os agricultores foram migrando de uma cultura para outra, sempre buscando a competitividade, para o que investiram em tecnologia, que, aliás, tem sido o foco dos nossos agropecuaristas cearenses.
“A Faec está de parabéns pela exitosa missão à Califórnia, e o governo do Estado, por meio da SDE, é parceiro desse esforço. O governador Elmano de Freitas compreende a importância que tem a iniciativa privada para gerar emprego e renda para o nosso povo, e não só compreende, como também investe, apoia e aposta no desenvolvimento do setor.
“Eu poderia citar vários exemplos disto, mas vou me referir a um, que aconteceu nesta semana: eu presenciei, na Califórnia, a conversa que, pelo telefone, travaram o governador Elmano de Freitas e o presidente da Faec, Amílcar Silveira. O objetivo dessa conversa foi um só: fortalecer as atividades do setor primário da economia cearense.
“Agora, a Faec apresentará ao governador uma proposta para o melhor aproveitamento dos perímetros irrigados do Ceará. A ideia do presidente Amílcar é criar, no nosso estado, um perímetro irrigado que se torne um bom exemplo, pois o bom exemplo arrasta.
“A SDE já estuda a maneira de como apoiar essa iniciativa. Quando um produtor rural no Ceará produz com competitividade, ganhando bem e gerando oportunidades de emprego e renda, outro que o observa passa a perseguir o mesmo objetivo, e este é o novo agora: estimular culturas de alto valor agregado.”