Esta coluna quis saber a quantas anda o preço das coisas. E foi às compras ontem, elegendo para isso a loja do Meireles de uma rede de supermercados muito frequentada pela classe média-média, na qual ingressou decidido a restringir o apetite consumidor às necessidades do momento. Nada mais do que isso.
Municiado de um carrinho de duas seções – uma superior, outra inferior, esta maior do que aquela – o colunista foi ao único e exclusivo destino que o levou àquele estabelecimento: a área de FLV – frutas, legumes e verduras. Repetindo os mesmos gestos e a mesma atitude dos outros clientes – que manuseavam os produtos, apertando-os para sentir a sua rigidez, cheirando-os para qualificar o sabor, olhando-os com atenção em busca de alguma imperfeição – ele foi enchendo o seu carrinho.
Primeiro, 1,500 quilo de tomate, a R$ 16,98 por quilo – total: R$ 25,47. Provavelmente, os pesquisadores do IBGE, que produzem o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, medida oficial da inflação brasileira) ainda não observaram que o tomate, como o Xuxu na época do Plano Cruzado de José Sarney, é hoje um dos violões do custo de vida no Brasil.
Depois, 830 gramas de cenoura – cujas unidades eram tão fininhas que provavelmente darão muito trabalho à dona de casa que as descascará – ao preço de R$ 12,98 por quilo. Total R$ 10,77.
Em seguida, 1,210 quilo de cebola “pera branca”, ao preço de R$ 9,98 por quilo – total R$ 12,08. Já dá para notar que, de algumas semanas para cá, a parte dos centavos caiu de R$ 0,99 para R$ 0,98. Aí misturam-se uma questão marqueteira com o aspecto psicossocial, e a intenção é uma só: passar para o cliente a ideia de que o preço baixou. Verdade! Baixou R$ 0,01.
Deve ser lembrado que ontem, terça-feira, na loja dessa rede supermercadista, era dia de “promoção”, o que pode ser provado pelos itens hortícolas a seguir:
Três unidades de cebolinha por R$ 2,49 cada uma – total R$ 7,47; Três unidades de coentro a R$ 2,49 cada uma – total R$ 7,47; Duas unidades de alface crespa verde, a R$ 3,59 cada uma – total R$ 7,18.
Tem mais: 650 gramas de pimentão verde a R$ 17,98 por quilo – total R$ 11,69; E mais: 1.785 gramas de banana nanica a R$ 6,48 por quilo – total R$ 11,57. E 4,970 quilos de mamão do tipo Formosa a R$ 2,98 por quilo (na “promoção”) – total R$ 8,84.
Para completar o carrinho, 1,580 quilo de laranja pera a R$ 5,48 por quilo – total R$ 8,66; e 1,175 quilo de batata inglesa a R$ 8,48 por quilo – total R$ 9,96.
Total das compras: R$ 127,13. Desse total, segundo o cupom fiscal emitido no ato do pagamento da compra, R$ 17,10 destinaram-se aos tributos federais e R$ 25,43 ao tributo estadual (ICMS).
É difícil de acreditar que a inflação oficial brasileira medida pelo IPCA esteja hoje residindo numa casa abaixo dos 4% ao ano. Ora, inflação é o aumento dos preços das coisas. E esses preços têm subido constantemente, e isto vale para os produtos de origem no campo, os agropecuários, e, também, para os fabricados nas cidades, os industriais.
A catástrofe que se abate sobre o Rio Grande do Sul já causa problemas à logística de transporte. São os gaúchos que produzem 58% do arroz brasileiro; são eles que respondem por 15% da área plantada de soja em todo o país. E de 4% da área brasileira cultivada de milho. Essas safras já foram colhidas e isto alivia o problema, mas questão é como fazer para transportar essa colheita gaúcha para o resto do Brasil: não só Porto Alegre, mas as maiores cidades do Rio Grande do Sul – principalmente a sua área rural – estão inacessíveis porque suas estradas federais, estaduais e municipais foram danificadas pelas inundações. O que há no Rio Grande do Sul é o estado de caos.
Diante desse difícil cenário e dessa sombria perspectiva, a previsão é de que o preço das coisas seguirá subindo.