Depois da China, Lula pisa no chão das dificuldades do seu governo

Relação com o Congresso ainda é complicada. O governo ainda não tem maioria para aprovar o novo arcabouço fiscal, nem a Reforma Tributária

Usar a moeda chinesa, o Yuan, nas transações comerciais do Brasil com a China é uma boa ideia, segundo os economistas. Mas ampliar essa ideia para o comércio mundial é complicado, de acordo com os mesmos economistas. 

De um jeito ou de outro, a sugestão do presidente Lula – que ontem encerrou, com pompa e circunstância, em Pequim, sua exitosa visita à China – teve um objetivo: mexer com os interesses norte-americanos, e isto não foi uma boa ideia, porque até o PT saiu em defesa da manutenção das boas e tradicionais relações com o governo dos Estados Unidos. 

Hoje, mais de 90% dos negócios de exportações e importações do planeta – incluindo os da China -- são feitos em dólar. Será muito difícil mudar o que está posto há mais de um século. 

Lula e seu colega chinês XiJinping celebraram vários acordos nas áreas do comércio, indústria e tecnologia. Um deles prevê uma ação conjunta dos dois governos de monitoramento, via satélite, dos desmatamentos e incêndios na Amazônia. 

Outro acordo abre as portas do Brasil para que a gigante chinesa Byd instale, provavelmente na Bahia, uma fábrica de automóveis elétricos, que utilizará os mesmos galpões onde, até há pouco tempo operou, em Camaçari, uma fábrica da Ford (será uma boa resposta à indústria automobilística norte-americana).

Quando retornar a Brasília, Lula poderá, segunda-feira, 17, colocar seus pés no chão das dificuldades que seu governo enfrenta na relação com o Congresso Nacional, que receberá nesse dia – pelo menos é a nova expectativa anunciada pelo Ministério da Fazenda – a proposta do novo arcabouço fiscal, dentro da qual estão guardados, até agora a sete chaves, os segredos do plano do governo de reduzir seus gastos e aumentar suas receitas. Um trabalho hercúleo do ponto de vista político e operacional.

Lula não tem, ainda, maioria para garantir a aprovação da proposta do novo arcabou fiscal, nem a Reforma Tributária.

Ontem, em Pequim, na entrevista que concedeu aos jornalistas, o ministro Fernando Haddad – entusiasmado com a repercussão positiva da viagem de Lula à China – disse que o governo e o Banco Central estão trabalhando no sentido de fazer convergir para o mesmo objetivo as políticas fiscal e monetária. 

Lula e Haddad estão certos de que, nos dias 2 e 3 do próximo mês de maio, o Comitê de Política Monetária (Copon) do Banco Central decidirá por uma redução de 0,25% da taxa básica de juros Selic. 

Para isso, “o governo está fazendo a sua parte”, disse o ministro da Fazenda, repetindo seu discurso que, na verdade, embute uma mensagem dirigida diretamente à autoridade monetária.

O mercado torce para que o Copom reduza a taxa Selic, mesmo que em apenas 0,25%, o que ajudará a pôr termo ao clima de tensão que há hoje nas relações do presidente da República com o comando do Banco Central. Se não houver essa redução na próxima reunião do Copom, esse clima azedará de vez.

Lula está hoje em Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos. Lá, também, trata de negócios com as autoridades do pequeno, mas rico emirado. Hoje ainda, ele iniciará a viagem de volta ao Brasil. O avião presidencial fará uma escala técnica em Lisboa.