CIC: 100 anos em dois períodos

E só havia uma única saída, a que Gonzaga Mota escolheu. Convidou Tasso Jereissati, um dos “meninos do CIC”, para candidato do seu partido, o MDB. Convite aceito. 

Ontem, no superlotado auditório da Fiec, o Centro Industrial do Ceará (CIC) celebrou 100 anos de atividades.  

Criada no início do século passado, a entidade teve dois períodos: o primeiro – de nada a celebrar – terminou em 1978, quando se iniciou o segundo. Deste período fui testemunha ocular e auditiva. 

Um grupo de jovens empresários - liderado por Beni Veras – assumiu o comando do CIC e o transformou, rapidamente, no principal fórum de debates do Nordeste. 

O País vivia sob o regime militar e os políticos repetiam a mesmice. 

Preocupados com o que viria depois que os militares deixassem o poder, os “meninos do CIC” trouxeram a Fortaleza as vozes mais díspares do espectro político e ideológico. 

Leonel Brizola, Henfil, Antônio Ermírio de Morais, Conceição Tavares, Miguel Arrais, Celso Furtado e Antônio Carlos Magalhães e vários outros expoentes da esquerda, da direita e do centro falaram no fórum do CIC. 

Havia um plano: primeiro, conquistar a presidência da Fiec; depois, o Governo do Estado do Ceará. 

Em 1986, a primeira etapa do plano foi descartada em benefício da segunda alternativa.  

Aconteceu assim: o então governador Gonzaga Mota, que enfrentava o caos (servidores públicos com três meses de vencimentos atrasados, a Polícia sem dinheiro para a gasolina de suas viaturas, professores em permanente situação de greve e uma lista longa de mazelas), buscou uma saída para livrar-se da ameaça dos coronéis da Arena, Adauto Bezerra e César Cals, que, na oposição, pareciam ser os grandes favoritos da eleição de outubro daquele ano. 

E só havia uma única saída, a que Gonzaga Mota escolheu. Convidou Tasso Jereissati, um dos “meninos do CIC”, para candidato do seu partido, o MDB. Convite aceito.  

Tasso, porém, fez algumas consultas, uma delas ao então presidente da República, José Sarney, que o incentivou à empreitada. 

A primeira pesquisa do Ibope trouxe Tasso Jereissati com menos de 2% da preferência do eleitorado. Adauto tinha 46%.  

Orjan Olsen, que dirigia o Ibope, disse a Jereissati: “Vá em frente. A chance de você ganhar é grande”. 

Em outubro de 1986, Tasso – representando o CIC – foi consagradoramente eleito governador do Ceará. 

E fez um governo de mudança, como prometera na campanha, toda ela feita ao lado dos mesmos deputados do MDB que, logo após sua posse, passaram à oposição.  

Nos primeiros dias de gestão, Tasso dispensou cerca de 35 mil pessoas que, sem concurso público, lotavam as repartições públicas, principalmente as da Secretaria de Educação. 

Apoiado pelas ideias mudancistas do CIC, Jereissati elegeu seu sucessor – Ciro Gomes – e depois retornou ao governo, elegendo-se em 1994 e reelegendo-se quatro anos depois.  

Houve uma mudança radical na política, na economia e também na vida sócio-cultural do Ceará.  

Sem Tasso, o CIC deixou a cena da política, mas segue mantendo sua influência na economia. Nos últimos anos, a entidade – que já foi presidida, entre outros, por Amarílio Macedo, Sérgio Machado, Assis Machado Neto, Lauro Fiúza Júnior, Fernando Cirino Gurgel e Jorge Parente – tem se dedicado a produzir estudos sobre a economia regional nordestina.  

Do último desses estudos – produzido na gestão de Nicole Barbosa - surgiu um denso documento que resultou no Integra Brasil, um esforço de todas as lideranças da região para inserir o Nordeste nas prioridades nacionais. 

Vida longa ao CIC.