Neste momento, é possível observar que serve para o Brasil o que o eleito presidente da Argentina, Javier Milei, do partido Liberdade Avança, pretende fazer lá para tirar seu país do buraco no qual foi lançado pela política populista da vertente deletéria do peronismo – o kirchnerismo.
Milei anunciou que fará um ajuste fiscal do tamanho de 15% do PIB argentino, para o que, entre outras coisas, cortará quase todos os gastos do governo, incluindo os das obras públicas, “que serão paralisadas ou entregues à iniciativa privada”, e diminuirá o tamanho do estado, extinguindo ministérios e vendendo empresas estatais ineficientes.
E justificou: “Não hay plata”, isto é, não há dinheiro. A Argentina está quebrada. Ponto.
Milei anunciou, ainda, que o orçamento de 2024 terá déficit zero. “Ou é isso ou é a hiperinflação”, disse, acentuando que os argentinos, principalmente os mais pobres, enfrentarão seis meses muito duros, mas prometeu que, em 2025, os frutos amargos dessas medidas serão colhidos, iniciando-se, então, uma fase de crescimento da economia do país, que hoje não dispõe de reservas em dólar para bancar suas mais necessárias importações.
Entre o que anunciou Javier Milei e a perspectiva de êxito de seu projeto de mudança vai uma distância oceânica. Assim como no Brasil, os políticos argentinos padecem do mesmo mal da fisiologia, pois pensam mais nos seu do que no interesse público.
E mais: Milei, o autoproclamado libertário radical, não tem, e dificilmente terá, maioria no Parlamento argentino. Para obtê-la, terá de negociar com os diferentes partidos, algo que, como no Brasil, custará muito caro, talvez caríssimo.
Até que ponto Javier Milei está mesmo disposto a confrontar a liderança da política tradicional não se sabe, ainda. Mas se tem a certeza de que há um prazo entre a validade da legitimação eleitoral de Milei e o tempo para que se façam as reformas.
Neste momento, ele conta com o apoio da maioria da população para fazer o que prometeu ao longo da campanha. Seu mandato, contudo, só terá início no próximo dia 10 de dezembro. Até lá, ele terá de usar engenho e arte para driblar as dificuldades para a formação de seu time de governo, para a elaboração dos textos dos projetos de lei reformadores que encaminhará ao Parlamento e para negociar a sua rápida aprovação.
Não será fácil. O Legislativo argentino é dominado pelos partidos de esquerda e centro-esquerda com raiz peronista, fracionados, todavia, pela vertente kirchnerista. Por enquanto, o que existe é a expectativa, muita expectativa em torno do que acontecerá com Milei e seu governo nos próximos três meses.
Ao longo desse breve lapso, ou ele reverá seu discurso radical, adaptando-o ao que for possível para obter o apoio do Parlamento, ou o aprofundará, partindo para um confronto com o “status quo” do estamento político do país.
Aqui no Brasil, o presidente Lula teve de negociar – e segue em negociação – com os partidos do Centrão, sem cujo apoio nada é aprovado no atual Congresso Nacional.
Por mais que tenha distribuído ministérios e cargos de direção em estatais aos partidos que lhe dão sustentação no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, Lula ainda não construiu maioria confiável no Legislativo.
Assim como Javier Milei, Lula da Silva ele tem um problema grave e semelhante: o déficit orçamentário que seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quer zerar em 2024, o que só será possível com uma receita extra superior a R$ 168 bilhões, algo que só virá por meio do fim ou da redução das isenções e incentivos fiscais.
Mas, caro leitor, esqueça essa hipótese, tendo em vista que, além da dificuldade de arrecadar essa montanha de dinheiro, Lula e seu governo, em vez de cortar as despesas, querem aumentá-las.
Uma conta que não fecha.