A grave crise gaúcha repercute na indústria do Ceará

A Aço Cearense suspendeu as vendas para seus clientes no Rio Grande do Sul, aos quais oferece ajuda material e renegocia prazos mais longos para pagamentos. A Durametal retomou suas vendas para a Randon.

Empresas industriais cearenses estão sendo impactadas pela grave crise ambiental, social, econômica e financeira que há 10 dias castiga o Rio Grande do Sul, pondo em risco toda a sua dinâmica economia e mobilizando o governo da União e daquele estado, o empresariado e toda a sociedade brasileira a uma operação de socorro que alcança repercussão internacional.  

Esta coluna pode informar, como exemplo local desse impacto, que a Durametal – moderna indústria metalúrgica instalada e em operação no Distrito Industrial de Maracanaú – já retomou as vendas à sua tradicional Randon, famosa e grande fabricante gaúcha de carretas rodoviárias.

Felipe Gurgel, diretor-presidente da Durametal, que produz rodas e tambores de freio comercializadas no Brasil e no exterior, informou que, durante uma semana, a Randon – cuja fábrica localiza-se em Caxias do Sul, na região serrana do Rio Grande do Sul, a mesma onde estão Bento Gonçalves, Gramado e Canela – suspendera sua produção por causa das pesadas chuvas que caíram na área. 

“Essa produção foi retomada e nossas relações comerciais com a Randon seguem normalmente”, disse Felipe Gurgel.

Por sua vez, a Aço Cearense – que tem dezenas de clientes espalhados por dezenas de municípios gaúchos, incluindo os da Região Metropolitana de Porto Alegre – revela que, como consequência das inundações no Rio Grande do Sul, estão paralisadas suas vendas para aquele estado. 

De acordo com Ian Correia, vice-presidente da Aço Cearense, sua empresa está mantendo permanente contato com sua clientela do Rio Grande do Sul, oferecendo-lhe ajuda material e renegociando prazos de pagamento que agora foram alongados tendo em vista os prejuízos causados também às empresas pelas enchentes.

“Nossas relações com a nossa rede gaúcha de clientes sempre foram muito estreitas e de mútua confiança, de maneira que, agora, diante dessa extrema dificuldade por que eles passam por causa de um desastre natural, estamos a oferecer-lhes nossa solidariedade e nossa contribuição para que eles possam superar essa crise o mais rapidamente possível”, disse Ian Correia.

Ontem, um grupo de empresários cearenses da agropecuária reuniu-se para, entre outros assuntos, tratar de como participar das campanhas de doações que se fazem em todo o país para ajudar as quase dois milhões de vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. 

Um dos empresários – Edson Brok, da Tropical Nordeste Agrícola – foi aplaudido pela iniciativa de doar, como efetivamente doou, 25 toneladas de banana nanica produzida em sua fazenda em Quixeré, na Chapada do Apodi. A doação foi recebida pelo Sesc “Mesa Brasil” de Porto Alegre e distribuída entre crianças e idosos.

Brok informou os presentes que seu filho iniciou uma “vaquinha” entre os amigos para a arrecadação de roupas, cobertores (está começando a estação de frio no Sul) e medicamentos para os flagelados (este é o termo exato) das enchentes gaúchas. O que for arrecadado será novamente transportado para Porto Alegre e entregue ao Sesc Mesa Brasil que o distribuirá.

Um dos presentes à reunião fez uma exposição sobre a situação financeira do estado do Rio Grande do Sul, “que está quebrado há mais de duas décadas”. Com base em depoimento de um empresário gaúcho, com quem conversou no fim de semana, ele disse que as contas do governo do estado, que foram equilibradas até o fim dos anos 80 do século passado, tornaram-se deficitárias para atender às demandas salariais do serviço público estadual. 

“Deve ser louvado o atual governador Eduardo Leite, que fez um esforço enorme, tentando dar um mínimo de ajuste ao estado no seu primeiro mandato, mas esse esforço foi em vão porque os interesses corporativos no Rio Grande do Sul são poderosos. O estado agora quebrou de vez, e o Brasil terá de ir lá para resgatá-lo. A propósito: essa coisa da dívida dos estados merece um olhar mais acurado. No caso do Rio de Janeiro, o estado mais devedor, trata-se de juro sobre juro. O Brasil trabalha para transferir renda para o mercado financeiro e para o governo. E, seguindo assim, nunca verá luz no fim do túnel”, concluiu o empresário.