Antes ele era pequeno. Tinha o tamanho de uma televisão. Agora é grande o suficiente para caber na alegria de seu Elivá, dona Maria Júlia e Maria Laura. O mar entrou na vida deles no último 27 de outubro e mudou o sentimento. A começar pelo modo como foram apresentados: avós e neta conheceram o oceano juntos.
A oportunidade surgiu de surpresa, como tudo o que é bom na vida. Num dia tranquilo, família e amigos se organizaram para ir à Praia do Maceió, em Camocim. Era domingo, poucas nuvens no céu. Resolveram, então, levar o trio para finalmente diminuir a distância com aquele mundaréu de água junta. E aconteceu.
Logo que avistaram o mar, seu Elivá e dona Maria Júlia respiraram fundo. A beleza era tamanha, faltou até palavra. Na sequência, seguraram as mãos de Laurinha. Um de cada lado, sustentando a euforia miúda do 1 ano e 3 meses de vida dela. “Me senti muito feliz quando entrei na água. Parecia que ela era viva, que mexia dentro da gente”, confessa seu Elivá.
Ambos com 59 anos, avô e avó demoraram tanto para conhecer o oceano por falta de oportunidade. A vida não foi fácil em Salgado dos Mendes – distrito do município de Forquilha, distante 208 quilômetros de Fortaleza. Antes de conseguir emprego em firma grande, seu Elivá, por exemplo, trabalhou no roçado e não conseguia bancar passeios.
Não à toa, mesmo a praia mais próxima era difícil de ser visitada porque, além de exigir, o ofício dificilmente daria o mínimo suporte financeiro para desfrutar de um dia à beira-mar. “A gente sempre tinha vontade, mas nunca dava certo, não tinha oportunidade. Tanto é que, agora, quando surgiu a chance, fomos conhecer”.
O dia do encontro está cravado na memória e pede repetição. Depois que se entra no mar, quem quer deixar de voltar? Embora ainda não fale, Laurinha ficou tal qual os avós: encantada. Nas palavras da mãe da criança, a bebê foi muito feliz. Tomou banho, sentiu vento, brincou na areia, e só não ficou mais tempo dentro d’água porque tremia de frio.
“Ela molhava os dedinhos. Viu o mar e não sentiu medo. Queria logo entrar porque gosta muito de água”, conta Erilanne Alexandre. No oitavo mês de gestação da filha, ela mesma fez questão de ir à praia para estar com o senhor das ondas. Talvez ofertar a vida de Laurinha como testemunha do quanto estar no mar é bom. E fazer com que ela seguisse esse passo.
Erilanne não conheceu o oceano cedo – apenas aos 18 anos, depois de iniciar emprego. Até lá, só observava a labuta dos pais e sonhava romper o limite da TV e ver o gigante azul de perto. No íntimo, desejava que os dois também assim o fizessem. Eles, que se conheceram em uma novena de São Francisco e hoje somam 34 anos de união.
Eles, que passaram nove anos namorando, noivaram durante um ano e, após o casamento, conceberam duas filhas e dois netos. Agora, na flor das idades, pretendem apenas continuar partilhando a felicidade em família e, claro, conhecer mais praias, mais areias, mais mares. Estender a sensação de que a vida vale a pena – e mais ainda quando se é dentro d’água.
“O amor é a gente viver com a esposa da gente, ser muito feliz com ela e os filhos. O amor esteve presente na minha vida pelo carinho que tenho com minha família. Quero todos muito bem. Somos felizes de vivermos juntos, e vamos ser assim para sempre, se Deus quiser”, torce seu Elivá, movimento aconchegante de oração.
Ao que Erilanne completa, sempre em reverência ao oceano e cercada dos barulhinhos de Maria Laura, como que dizendo que a vida pode ser muito boa se o foco das coisas for a simplicidade: “Acho que todas as pessoas deveriam ter o prazer de conhecer o mar. Não importa idade nem condições. Era para ser uma coisa para todos”, defende.
Em tempos de crise climática e PEC das praias, há uma família no interior do Ceará que torce para que ninguém mais olhe o mar só pela TV. Que ele continue sendo transferível. O mundo é vasto, a terra é grande, nosso corpo é água e busca sal.
Esta é a história de amor de seu Elivá, dona Maria Júlia e Maria Laura pelo mar. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor.