Rogério Ceni e o desabafo sobre as categorias de base do Fortaleza

Técnico afirmou que tem boa relação com a base, mas precisa de talentos para usar no profissional

Legenda: Ceni ressaltou que usou os atletas da base no Cruzeiro e no São Paulo
Foto: Foto: JL Rosa / SVM

“Não vejo nenhum jogador pronto”. A frase de Rogério Ceni foi usada ao explicar o uso de atletas formados pelo Fortaleza no time principal. Mais que posicionamento, denota uma interpretação: a categoria de base tricolor precisa evoluir.

A explicação está no conceito revelador do clube, que sempre esbarra em nomes como Max Walef (26), Bruno Melo (27) e Osvaldo (32). A idade por si só denuncia a falta de renovação. O detalhe é que Ceni se preocupa com a juventude - e a cúpula tricolor também reconhece o gargalo.

Dos reforços buscados no mercado, a diretoria trouxe a maioria de recém-profissionais: Yuri César (19), Luiz Henrique (20) e Madson (20). Todos em transição ou potencial de formação, ou seja, não acabados.

E o trabalho de Ceni perpassa esse perfil de atleta. Foi assim no São Paulo, quando revelou o atacante David Neres, e também no Cruzeiro, ao barrar medalhões para dar espaço aos novos talentos, ato que culminou até com a própria demissão.

Logo, a relação entre o técnico e a base é boa. O ponto fora da curva no Fortaleza é a qualidade do material humano produzido. Os talentos existem, mas estão longe de lapidados para a comissão técnica profissional segundo o ex-goleiro.

“A base do Fortaleza não foi bem na Taça São Paulo (eliminada na 1ª fase). Tem que melhorar estrutura, evoluções, consertos para um dia revelar jogadores como outros clubes revelam. Usar ou não está atrelado apenas ao treinador, está mais atrelado a qualidade e competência dos atletas que estão lá. No dia que eu não precisar trazer o da base do Flamengo e poder trazer o meu da base daqui, é claro que vou trazer o meu. É um investimento alto, ninguém tem paciência. Enquanto uns clubes investem R$ 25 milhões por ano, o Fortaleza investe R$ 1,2 milhão e muitos, quando fazem 16 anos, são catados daqui e levados para fora”, explicou.

O exemplo citado foi o do zagueiro Diguinho, que atuou pelo time principal em 2019. Na mesma temporada, foi negociado com o Palmeiras. O intercâmbio existe porque o próprio treinador transferiu os treinos do profissional para o CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú - espaço preparado para base.

Legenda: O Fortaleza não conquistou grandes resultados na base em 2019
Foto: FOTO: ISANELLE NASCIMENTO

O apelo então está lançado. Nas atividades, todo dia, Ceni convoca de seis a sete atletas da base para completar a equipe e ter oportunidade. Desses, o volante Geilson, o meia Wendew e o atacante Gustavo Coutinho aproveitaram a chance e foram integrados.

O trabalho agora é de cautela e formação. O investimento no setor é de R$ 250 mil mensais, mas o clube realizou a contratação de uma consultoria especializada para promover um diagnóstico da base. O contrato é de seis meses. 

Até revelar um novo Everton ‘Cebolinha’, craque do Grêmio e da Seleção Brasileira, o caminho é longo. Perceber a preocupação de Ceni como uma análise e não crítica é fundamental para a compreensão de que os talentos terão espaço, desde que melhores trabalhados.

Em tempo I: Na última temporada, das divisões inferiores da Federação Cearense de Futebol (FCF), por exemplo, o Fortaleza foi para a final em três das quatro categorias - sub-13, sub-17 e sub-20 -, mas esbarrou no vice-campeonato. Os títulos ficaram reservados ao Cearense de Futsal sub-13, Copa Euller Barbosa sub-13, Copa Seromo sub-14 e também sub-20.