'Diário de um Confinado' é a expressão hilária e melancólica dos dias de isolamento em série

Produção do casal Bruno Mazzeo e Joana Jabace, traz nomes como Renata Sorrah e Débora Bloch em 12 episódios

Legenda: Murilo vive, nos dias dentro de casa, o tédio e as preocupações de uma quarentena que se arrasta há meses
Foto: Foto: divulgação/TV Globo

Quando a quarentena, o isolamento social e o “novo normal” entraram para o vocabulário comum, as dúvidas sobre a pandemia do novo coronavírus e, consequentemente, sobre o que fazer dentro de casa se tornaram recorrentes desse tal momento atípico no qual estamos encerrados desde março. Aqui mesmo falei sobre o tédio e como os conteúdos do streaming me ajudaram nos dias, que até hoje teimam em correr. Você que acompanha esta coluna deve ter percebido.

Eis o sentimento capaz de me fazer constatar a identificação com Murilo, personagem protagonista de “Diário de um Confinado”, série multiplataforma com crônicas de autoria do casal Bruno Mazzeo e Joana Jabace, diretora artística da produção, e veiculada na Globo na última sexta (3), no Multishow e disponibilizada na Globoplay desde o dia 26 de junho.

A premissa é simples: 12 episódios focados em um cara comum, o Murilo, na faixa dos 40 anos, vivendo sozinho em meio à esse afastamento do convívio, da adaptação da rotina, do excesso de informação, das fake news. O ponto central, também simples, seria fazer comédia com algo novo, brincar com as dificuldades que têm sido comuns nas diferentes residências por aí, das discussões entre família e amigos. Ainda assim, a melancolia de viver apartado do ser social que habita em todos nós é outra questão-base na história, presente no novo trabalho que tem a cara de Mazzeo.

O primeiro episódio, por exemplo, me causou gargalhadas sinceras com a neurose do personagem em relação às encomendas recebidas nesse período. Quem não se pegou preocupado com os materiais chegados em casa, se viu pensando por quanto tempo eles são capazes de preservar o vírus ou recebeu mensagens com novidades por mensagem sobre isso? Se a realidade é dura, assistir de forma cômica como essa forma de viver nos tem afetado é quase como uma maneira leve de entender a falta de normalidade que nos cerca agora (e se você é dos que defendem o “novo normal”, sinto dizer que discordo completamente dessa expressão).

Falando sobre os detalhes um tanto técnicos, no caso, a duração de cada crônica da série também é outro ponto alto. Em cerca de dez minutos, é possível enxergar e reconhecer detalhes do cotidiano, rir das expressões desesperadas de Murilo, das tiradas sarcásticas de Mazzeo, que o interpreta. A câmera que segue o dia a dia dele, e também serve de instrumento de confissão, é quase outro personagem que acompanha o enredo posto em tela.

Legenda: As cenas de introdução com Murilo contando os dias em meio ao isolamento são engraçadas pela ansiedade e melancólicas pela realidade
Foto: Foto: divulgação/TV Globo

E se o momento é de ficar em casa, isso à série segue bem à risca. Fernanda Torres, Débora Bloch, Renata Sorrah, Arlete Salles, Matheus Nachtergaele, Lázaro Ramos, Marcos Caruso e Lucio Mauro Filho fazem participação na série, mas aparecem de um jeito diferente. Contracenando com Bruno por chamada de vídeo, com exceção de Bloch, que mora no mesmo prédio dele, os artistas dão peso à narrativa de homem-solo.

Entre as consultas com o médico, com a terapeuta, com as conversas com a mãe (e vale citar que a personagem de Sorrah é hilária) e as conversas sobre o uso de máscara, a comédia traz o tom despretensioso de quem só quer rir até que tudo passe. Antes de voltar definitivamente ao que deixou de ser comum, pelo ainda vai ser preciso conteúdos como esse para se divertir até mesmo com algo tão difícil. Quem sabe, mais na frente, talvez seja ainda mais engraçado perceber como a realidade foi nestes tempos. Por enquanto, resta torcer por isso.