Coluna Prestes em Crateús

Neste janeiro, a cidade de Crateús comemora um fato histórico. Em 1926, a Coluna Prestes, que partiu de Alegrete-RS, chegou ao Ceará pelo Piauí. Desceu a Serra Grande, chegando ao Ipu com 120 homens, em plena festa de São Sebastião. De repente temeram um conflito ao vislumbrar a bandeira vermelha do padroeiro. Julgavam tratar-se dos comunistas. Foram ao telégrafo da estação ferroviária e cortaram os fios transmissores. Vinha no seu comando o capitão João Alberto. Os habitantes ficaram temerosos e fugiram para as suas fazendas com medo dos revoltosos. Minha tia Rosa que, no alto dos seus 100 anos, guarda na memória as apreensões daqueles dias. Minha mãe Alaíde, com 98 anos, diz que os habitantes fecharam suas casas e se prepararam para uma batalha. A coluna Invicta, assim chamada, não era beligerante. Tinha a missão de mostrar ao povo a política desastrosa do governo central. República Velha, de Artur Bernardes e Washington Luiz, era carcomida por uma política injusta. A coluna não conquistou o povo. Padre Cícero fez manobras para guerrear com os revoltosos. Floro Bartolomeu contatou Lampião para defender o Ceará. Em Campos Sales, a coluna, com a presença de Luiz Carlos Prestes, desistiu de atacar a cidade de Fortaleza. A coluna é um marco histórico, mas de poucos resultados práticos. João Alberto, Miguel Costa aliaram-se a Getúlio Vargas e fundaram o Estado Novo, um regime ditatorial, longe de eleições e democracia. Prestes tornou-se comunista. E Crateús promoveu uma batalha contra os revoltosos. O Brasil, em marcha pacífica, termina em vidas perdidas. São estigmas coloniais: o povo acha que o governo sempre é reino. Ninguém combate o reino. Ele nunca erra e nos dá tudo sem que peçamos. Precisamos de uma marcha de consciência que faça o povo acordar. O País tem que ser mais justo, para que voltemos a ter paz.

José Maria Bonfim de Moraes

Médico cardiologista