Woolf, Kafka & Cia

Escrito por Sávio Alencar , salencarlimalopes@gmail.com

Savio Alencar
Legenda: Sávio Alencar é editor e pesquisador de literatura
Foto: Arquivo pessoal

Foi Roland Barthes, escritor e crítico literário francês, quem declarou o autor morto. Eram os anos 1960, e o estruturalismo tomava de assalto o ambiente universitário. Nos estudos literários, tal corrente teórica afugentou qualquer possibilidade de se entender uma obra a partir da figura – em carne e osso – do autor. Muito pelo contrário, ela devia ser compreendida apenas por seus mecanismos internos, sem a interferência de elementos estranhos ao universo do texto.

Hoje, quem acompanha a paisagem editorial brasileira constata que o interesse pelo autor está vivo, vivíssimo. Acabam de ser publicados dois livros que dão bem a dimensão da biografia do escritor na construção de um projeto literário: os diários de Virginia Woolf, pela editora Nós, e de Franz Kafka, pela editora Todavia. Escritores paradigmáticos da prosa de ficção moderna, Woolf e Kafka agora podem ter a intimidade perscrutada por nós, que os conhecemos por livros como “Mrs. Dalloway” e “A metamorfose”.

Ambos os diários são, desde já, um dos momentos mais vibrantes do mercado editorial brasileiro neste 2021, que ainda promete bons lançamentos até o fim do ano – e conta até com uma nova editora, a Fósforo, de cujo catálogo destaco “O lugar”, de Annie Ernaux, uma das escritoras mais audaciosas no terreno movediço da ficção biográfica. A prestigiada ficcionista francesa chegou por aqui em 2019, com a publicação de “Os anos”. Voltarei a falar dela em breve.

Ao lado dos diários, as biografias, gênero que vive um bom momento entre nós, também reacendem o interesse pela vida não só de escritores, mas de personalidades do ambiente cultural, nacional ou estrangeiro.

O pintor Alberto Guignard, o cantor Ney Matogrosso, a arquiteta Lina Bo Bardi, a filósofa Hannah Arendt, todos eles chegam em versão brochura, alguns até com biografias duplas, lançadas por editoras distintas.

O leitor perseverante – quem ainda consegue manter uma rotina de leitura decente diante de tanta tragédia? – tem pela frente uma boa pilha de lançamentos para dar conta. Quem sabe assim, ao revisitar o Brasil de Guignard, Ney e Lina, ele se lembre de que um dia esse país já teve vocação feliz.

Sávio Alencar
Editor e pesquisador de literatura