Valentões famosos

Escrito por F. Silveira Souza ,

Fortaleza não é somente “loura de sol e branca de luares” – como cantou Paula Ney. Também teve seus justiceiros, como Capadócio, que matou o boêmio e seresteiro Moacir Weine, numa tragédia que ensejou alentada comoção popular, eis que a vítima, abruptamente ceifada em plena e radiosa mocidade, muito nos tinha a oferecer com sua bela voz e estro poético. Eis certamente a razão porque nossos vereadores logo procuraram sustar a nostalgia do povão, dando seu nome a uma das ruas da Bela Vista.

Outro justiceiro, protagonista de inúmeras escaramuças, foi Apolinário, de que nos fala Blanchard Girão, em seu precioso “Sessão das quatro”.

Apolinário era um capanga de porte avantajado que agia a mando de políticos, de milionários e também por conta própria. Autêntico “justiceiro”, impunha sua vontade “a serviço da justiça”, açoitando arruaceiros e desordeiros, a todos fustigando com seu misterioso rebenque, de que não se separava um segundo.

Certa feita um carreteiro desentendeu-se com um filho de Apolinário – o soldado Crispim – indo ambos às vias de fato numa luta tremenda em que o bagageiro levava ampla vantagem. Avisado, Apolinário logo dá com os litigantes e, manejando seu rebenque, quase mata o popular que nocauteava seu filho.

Dias após, o homem do rebenque comparece à Praça do Jardim América, onde se realizaria um comício com vistas às eleições de 3 de outubro de 1950. Após constatar a normalidade do ambiente, Apolinário entra num boteco, nas imediações. Tomava sua cervejinha gelada bem despreocupado, pois tudo “estava em cima” – como se diz na gíria.

Súbito, falta luz no botequim, sendo Apolinário surpreendido com certeira e fatal facada nas carótidas, pelo mesmo carreteiro a quem antes vergastara. E dá-se o dito popular: “Quem com o ferro fere...”

F. Silveira Souza
Advogado e escritor

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024