Um otimismo trágico

Escrito por Victor Breno , victorbrenofb@gmail.com

Legenda: Victor Breno é professor e doutor em Ciências das Religiões pela UFPB
Foto: Arquivo pessoal

Seria possível a despeito das tragédias ocasionada pela atual pandemia de coronavírus, manter algum tipo de otimismo com relação a vida e a sociedade? Na compreensão do psiquiatra judeu-austríaco Viktor Frankl (1905-1997), sim. Para ele que sobreviveu a quatro campos de concentração nazistas durante o período da Segunda Grande Guerra, entre os anos 1942 a 1945, é possível conservar o sentido potencial da vida apesar dos aspectos trágicos com que ela se apresenta. 

No seu livro Em busca de sentido, Frankl formula o conceito de “otimismo trágico” para referir-se à capacidade do indivíduo de permanecer otimista apesar da condição humana trágica marcada pela dor, culpa e morte. Ou seja, uma pessoa pode construir um sentido maior diante do sofrimento aparentemente destituído de significado. Esse sentido não seria um mero pensamento positivo que é forjado para alienar-se da realidade adversa, mas, sim, diz respeito à relativa liberdade de reagir à esta dando-lhe um propósito. 

Nesta perspectiva, mesmo diante do trágico, temos a possibilidade de extrair o “melhor” de cada situação. Esse otimismo trágico se daria de três formas. Primero, através da habilidade de transformar o sofrimento numa forma de conquista e meio de realização humana. Em segundo lugar, por meio da aptidão de tirar da culpa uma oportunidade de mudar a si mesmo para melhor. Por fim, fazendo da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis. 

Nossa realidade atual tem sido marcada pela instabilidade, incerteza e insegurança – na política, economia, saúde, mas também, no plano psíquico, emocional e religioso. Como a postura de um otimismo trágico nos auxilia nestes tempos contingenciais? De um lado, evita que caiamos num pessimismo fatalista ou num positivismo fantasioso, encontrando um caminho do meio entre ambos. Por outro, pode fazer-nos redescobrir que a vida potencialmente tem um sentido em quaisquer circunstâncias, e que, mesmo diante das tragédias mais adversas, é possível desenvolver “a capacidade humana de transformar criativamente os aspectos da vida em algo positivo ou construtivo”. 

Victor Breno
Professor e Doutor em Ciências das Religiões pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba)

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024