Um novo paradigma, uma nova forma de viver

Escrito por Redação ,

As crises mundiais são cíclicas. A história mostra que a manutenção ou mudanças nos sistemas sociais e produtivos ou da ordem mundial dependem de sismos econômicos, geopolíticos e geográficos, e para isso precisam de grandes eventos que motivem o surgimento de pontos de inflexão, como: uma tragédia natural, uma guerra com grande amplitude, uma tecnologia revolucionária ou uma pandemia.

Um novo paradigma mundial é sempre construído através de revoluções, mudanças profundas na forma de pensar as estruturas sociais e produtivas. Novas conexões são formadas por necessidades ou por novos ideais que são lançados em escalas globais. Novas tecnologias são postas à prova, dá-se um chamado salto quântico, aqui entendido como uma revolução na forma de pensar, sentir e agir em todas as esferas das diversas classes de uma sociedade. No entanto, entender e analisar novos paradigmas requer um distanciamento, daí a grande dificuldade na descrição do que está acontecendo no pós-pandemia motivada pela Covid- 19.

Muitos serão os perdedores, mas os menos afetados terminarão impondo seus valores, seus costumes, sua liderança e seus negócios. Esses que determinarão os novos parâmetros são os que estavam mais bem preparados para as crises e aberto a mudanças e posições criativas. A estabilidade social vai depender desses mais aptos ao novo cenário, que muitas vezes têm a própria instabilidade como fator central e assim já estavam preparados para enfrentá-la.

Em algum tempo as sociedades voltam à estabilidade, a um novo cotidiano com novos valores e os mercados se equilibram. Tudo sob uma nova ordem e sob uma renovada liderança econômica, politica ou tecnológica. O ator principal pode ser o mesmo de antes, com um upgrade, ou pode surgir novos atores.

A pandemia da Covid - 19 nos remete a diferentes sensações, todo o mundo sairá marcado, seja pelas mortes provocadas ou pelas novas conexões construídas, novos aprendizados, novos conceitos, novos amigos, novos negócios, nova forma de viver.

Novas tecnologias de gestão e de processos que ajudem na busca de um entendimento e alinhamento dos governos, das sociedades e dos mercados estão surgindo. Tudo isso trafegando em uma estrada permeada pela digitalização e conectividade e gerando uma mudança brusca de conceitos produtivos e sociais que vai explicitar uma nova classe de marginais, os novos analfabetos funcionais do pós-pandemia. O que poderá aumentar o índice de desemprego estrutural.

A pandemia está explicitando, ainda mais, as desigualdades estruturais das sociedades. Além do setor da saúde, isso ficou mais evidente na educação. As soluções de aulas remotas, com a utilização do EaD - Ensino a Distância ou do Ensino Presencial Mediado por Tecnologia surgiram como novas realidades para as escolas da educação básica ao ensino superior, e se expandiram com uma velocidade, eficácia e aceitação impressionante. Isso acentuou as diferenças sociais: de um lado alunos portadores de tecnologias continuando seus aprendizados com sistemas virtuais de comunicação cuidadosamente monitorados por escolas, em sua maioria privadas; do outro lado alunos esquecidos, fora de suas salas de aula, sem acesso a computadores e a internet.

O mundo moderno da globalização, da conectividade e da sustentabilidade parou para se despedir de seus mortos. Enquanto isso, motivando oportunidades ou ameaças, o espaço social está sendo redesenhado, como cenas de filmes hollywoodianos em que nós, os mocinhos, somos açoitados por uma grande catástrofe motivada por um pequeno inimigo invisível, mas muito poderoso. Esperamos que, como ocorre nos filmes hollywoodianos, que no fim os mocinhos vençam e minimizem as ameaças. Só nos resta esperar.

Marcus Vinicius Rodrigues

Membro da Academia Brasileira de Ciências da Administração, professor e consultor da FGV

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024