Um homem trans como pai

Uma nova polêmica tomou conta da internet, após a informação de que o ator e empresário Thammy Miranda seria um dos convidados da campanha especial de Dia dos Pais da empresa de cosméticos Natura. Tal fato gerou muita indignação da ala religiosa conservadora ao ver um homem trans como pai.

Os pedidos de boicote à marca, acompanhados de frases como "estão destruindo a família" e "isso é uma inversão de valores" foram muito compartilhados. A primeira frase, para mim, não faz o menor sentido, mas eu compartilhei a segunda, só que olhando de outro ponto. Grande parte dos cristãos, que comungam com o conservadorismo radical, inverteram os valores do cristianismo puro, amoroso e gracioso, e assumiram uma postura agressiva e de ataque a algumas minorias. Muitos esquecem que o Deus que é apresentado como Pai nas Escrituras Sagradas, age e se compara a uma mãe em várias passagens, porque Deus não tem gênero, o que importa para ele é o amor em nos ter como filhos. Deus é amor, como afirma a Bíblia, e o amor não faz distinção de gênero, sexo ou etnia. Isso está muito claro na Bíblia, mas muitos parecem não querer entender.

Eu tenho uma filha de quase 3 anos de idade e o que me define como pai não é minha genitália ou minha capacidade de reproduzir, mas o cuidado e o amor que dispenso a ela. O que dá sentido à minha paternidade não é o fato dela ter meu sangue, mas a relação que construímos cotidianamente, pautada no amor, cuidado e respeito.

Se você, companheiro cristão, não se sente representado por Thammy Miranda numa homenagem de Dia dos Pais, tudo bem, ela não é para você. Nós, homens cisgêneros, seremos amplamente representados por várias outras campanhas como sempre fomos. Thammy representa os pais homens trans e, nesse caso, representatividade importa muito e nós só precisamos reconhecer isso. Então, feliz Dia dos Pais, Thammy.

Jony Bigu
Pai, professor e evangélico progressista