Transposição tornada realidade

Depois de longo período de obras, com embargos gradualmente superados, as águas do São Francisco banharam o restante do Ceará, após anos de quase infindável expectativa, em função de obstáculos técnicos ou escassez orçamentária, tudo, afinal, ultrapassado pela tenacidade de governos anteriores, desde Lula da Silva com o ministro Ciro Gomes, numa ciclópica empreitada que alcança a maior parte do Nordeste, com projeção bem estruturada e entraves removidos por várias gestões, agora, todos celebrando como um sonho que se torna realidade, na luta contra a seca.

O evento, mesmo simples, levado a efeito no passado dia 26, permite que se recorde uma almejada perspectiva, concretizada dentro de uma paciência de Jó, alimentada por promessas revistas em seu marco temporal.

Para quem, na vida pública, há-se defrontado com instantes de esperas intermináveis, justificadas por motivos técnicos e financeiros, somados ao flagelo de estiagens impiedosas, era doloroso visualizar trabalhadores enfileirados para auferir diárias, nos fins de semana, num cenário timbrado pelo sofrimento, orando ao milagroso Padre Cícero, para uma intercessão sempre sonhada, de pôr fim à Odisseia que trazia desalento a grupos de retirantes, que, muitas vezes, demandavam, como no passado, para a Amazônia, com a fé de que, ali, melhor sobreviveriam com as respectivas famílias.

O presidente Bolsonaro, que tantas vezes nos ouviu reclamar da carência de quedas pluviométricas em nossa Região, constatou, a olho nu, a satisfação daqueles que esperam viver momentos condignos, com plantios férteis, de onde extrairão o sustento de cada dia.

O homem do sertão, sábio em suas conjecturas, poderá consigo mesmo raciocinar: "saímos da seca, mas estamos ainda a braços com o coronavírus, outro mal implacável, que impede o sertanejo de comemorar, euforicamente, a alegria da Transposição...".

Mauro Benevides

Jornalista e senador constituinte