Sobre as ninfas de cigarra

Escrito por Juliano Schiavo - Escritor e biólogo ,

Caminhando, me deparei com uma cigarra em metamorfose. Ela estava fixa numa árvore, num lento processo de se libertar de sua antiga morada. Isso me fez pensar, durante a caminhada, no quanto a metamorfose se torna necessária no dia a dia. É preciso sempre se reinventar, abandonando lugares que não nos comportam, pessoas que não nos incluem, situações que nos aprisionam, ou seja, permitir que o fluxo da vida esteja em constante renovação, para aproveitarmos o melhor dessa nossa rápida experiência.

Pensar na cigarra me fez refletir nos processos que são vagarosos. Tudo é um aprendizado diário, caso nos permitamos observar e entender as mensagens que, muitas vezes, são nítidas. Outras, são sutis, porém nos incomodam a ponto de sabermos que há algo errado ali. Interiormente, algo clama para abandonarmos lugares ou pessoas que não mais nos fazem bem.

Uma cigarra, antes de ter suas asas, é uma ninfa. Algumas espécies vivem de 1 a 17 anos enterradas, alimentando-se da seiva das raízes. Quando estão prontas, cavam um túnel, sobem nas árvores e, pela metamorfose, sofrem a ecdise. Ou seja, uma ruptura de seu “esqueleto externo”, que as aprisionava. Quando penso nisso, lembro da importância de respeitarmos o tempo de cada um, de amadurecer e de entender que tudo pelo o que passamos é um aprendizado.

Podemos ficar presos a “cascas” que não mais nos comportam. Como também podemos rompê-las e buscar o nosso lugar ao Sol, pois todos têm o direito de estar bem. E buscar o melhor para nós é uma escolha, que requer posicionamentos, decisões, renúncias – o que gera desconforto. Não é fácil sair de da zona de conforto, porém ao sair dela, podemos ver, na verdade, que ela era feita de dor e nós apenas estávamos anestesiados. Portanto, jamais deixe de se transformar diariamente, por você, em primeiro lugar. É um ato de carinho.