Saltimbancos: a vacinação infantil e o retorno às aulas presenciais

Escrito por Samara Moura Barreto de Abreu ,

“Uma pirueta, duas piruetas. Bravo, bravo! Além de acompanharmos as piruetas como manobras negacionistas em torno da autorização da vacinação infantil, também verificamos as tardias deliberações políticas sobre o retorno às aulas presenciais, próprias de ‘saltimbancos estatais’ que desejam continuar o projeto de educação bancária, definida por Paulo Freire.

Na maioria das escolas das redes de ensino do Estado do Ceará, o ano letivo de 2022 está previsto para iniciar ainda este mês de janeiro, em comum temporalidade de avanços exponenciais nos casos de Covid-19 associado à variante Ômicron, somada à alta demanda por síndromes gripais na faixa etária escolar nas nossas redes de saúde.

Ainda que tenhamos iniciado o calendário de vacinação infantil, o cenário epidemiológico atual aponta para o reordenamento pedagógico dessa retomada, considerando as interpelações com o modelo de ensino que será adotado e a atenção cuidadosa sobre os protocolos de biossegurança, não podendo se tornar uma mera recomendação apresentada no último decreto estadual datado de 14 de janeiro, visto que se reverbera na lógica mercadológica, conforme circular emitida pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará que orienta que as escolas mantenham o retorno já previsto.

Além da preservação da saúde dos estudantes, é preciso considerar o processo saúde-doença dos trabalhadores de educação, ou tão logo, teremos o adoecimento em massa, realidade vista em outros setores, especialmente, no setor de saúde, no mesmo passo que também repercute outras piruetas sobre a garantia de direitos à saúde do trabalhador, em que se expõe o aligeiramento de retorno às atividades funcionais pelos novos sincronizadores temporais de isolamento para Covid-19. Piruetas também serão feitas com professores substitutos?

É lamentável opinar sobre o recuo temporal das aulas presenciais, sobretudo, de escolares das classes menos favorecidas, que ainda precisarão fazer super piruetas, visivelmente nos sinais semafóricos da capital cearense, antes de retornarem a fila da merenda.

Samara Moura Barreto de Abreu é doutora em Educação

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024