Quem odeia seus professores?

Escrito por Igor Mascarenhas , igormasc@gmail.com

Legenda: Igor Mascarenhas é sociólogo
Foto: Arquivo pessoal

O governo do estado conseguiu um feito notável na última semana: transformar um direito humano, a vida – condicionada à vacinação -, em uma “negociação”, uma cláusula contratual.

Professores estão sendo obrigados a assinar um termo em que se comprometem a voltar às salas de aula presenciais (sim, se você não sabe, não deixamos de dar aulas) para tomarem o imunizante. Isso é um despautério, com o agravante de que nenhuma outra classe profissional ter sido obrigada a isso, mas ainda mais absurda é a opinião de parte da sociedade, que apoia a ação do estado.

À menor reclamação de nossa classe, boa parte dos “cidadãos de bem” a criticam, inclusive levantando dúvidas sobre o profissionalismo e até sobre as intenções dos docentes. Sem qualquer embasamento científico, acusam professores de doutrinação, despreparo e “corpo mole”.

Dessa forma, o Brasil produz um paradoxo: o do povo que valoriza a educação no discurso, mas que despreza e odeia profissionais da educação. Em uma pesquisa com 100 mil educadores de 34 países, a OCDE constatou que apenas 12,6% dos professores, no Brasil, acreditam que a profissão é valorizada pela sociedade. A média global é de 31%.

Evidente que há raízes históricas e culturais para isso. Pode-se mencionar a histórica cultura brasileira de “mérito” a partir dos contatos ou do berço, outro paradoxo, já que vai contra qualquer ideia de meritocracia intelectual. Isso relaciona-se diretamente ao ódio por profissionais que fazem parte da elite intelectual de um país que tem apenas 0,8% de pessoas de 25 a 64 anos com mestrado.

O discurso anti-intelectual, que cultua a polêmica e uma atitude politicamente incorreta, bem como o ódio nas relações e debates políticos, produz um sentimento de vigilância às atitudes dos profissionais de educação tanto por parte da sociedade como por parte do Estado.

Há, usando uma expressão de Lacan, uma paixão pela ignorância, mas não pela que catalisa a ação de conhecer, mas sim pela que é estimuladora do ódio ao saber e àqueles que o cultuam, isto é, aos professores e intelectuais, cujo “erro” é produzir e democratizar o conhecimento no Brasil.

Igor Mascarenhas
Educador e sociólogo

Assuntos Relacionados
Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024