Quem é o pai da criança imunização?

Escrito por Jonathan Cabral , cabraldasilvajonathan6@gmail.com

Um dia desses, eu vi uma charge onde o presidente Jair Bolsonaro era o personagem. A arte é de Alexandra Moraes e foi publicada no Instagram da Folha de S. Paulo. Ela trazia o presidente falando as seguintes frases: “o povo quer trabalhar!!!”, seguido de “mas eu não quero, não, bando de trouxa”.

Para mim, essa charge define muito bem a atuação do presidente em relação à pandemia da Covid-19, principalmente no que se refere à imunização no nosso país, que ainda está lentíssima, quando comparada com outros países.

Primeiramente, vemos nos noticiários essa constante briga de Bolsonaro com os governadores. Desde o começo da crise, o presidente se opõe às medidas restritivas como o lockdown e o fechamento do comércio.

Isso continua depois de um ano de Covid, como o próprio disse em sua visita ao Ceará, dizendo que os governadores que “acabam com empregos” que paguem o auxílio emergencial ou quando ele e o ministro das comunicações, Fábio Faria, postam em suas redes sociais, os valores do repasse da União para os estados, que lendo nas entrelinhas, pode-se entender o seguinte: o presidente deu o dinheiro e os governadores não estão usando. 

De novo, vemos a característica que perpassa as relações políticas de Bolsonaro, o jogo de gato e rato que ele faz, criando inimigos para suas ações como chefe de Estado, causando essa ilusão de que ele é perfeito e que os outros o perseguem. Detalhe: o repasse de verbas vindas da União é obrigatório.

Além disso, há também outra briga que prejudica muito a situação do Brasil: o governo federal X Pfizer. Há alguns dias, a Anvisa deu o registro definitivo da vacina da Pfizer/BioNTech, significando que o imunizante pode ser usado para a vacinação em massa e não só nos grupos prioritários, entretanto, ainda não temos a vacina em solo brasileiro, por quê?

Porque o governo ainda não comprou as doses. O motivo: uma cláusula no contrato de compra da Pfizer que diz que os compradores terão a total responsabilidade pelos efeitos adversos da vacina, se ocorrer. 

Essa cláusula não foi bem aceita pela União, que está tentando se isentar dessa responsabilidade. Bolsonaro afirmou em sua visita ao Acre que não será dele a palavra final e que pode ser do Congresso ou do STF, dependendo do andamento do projeto.

E enquanto isso, a farmacêutica foca para a venda direta para os estados, que também pode ser um pouco danoso. Essa briga se torna muito perigosa porque além de atrasar a chegada de novas vacinas, pode também não ser vista com bons olhos por outros produtores de imunizantes pelo mundo afora, dificultando essa compra de novas doses.

Em suma, essas brigas que eu comentei só complicam a possibilidade de vacinarmos toda a população e de, aos poucos, voltarmos a tomar as rédeas da economia. O presidente Bolsonaro diz que o povo quer trabalhar, mas ele não percebe (ou talvez sim) que a economia não vai voltar se a população não for imunizada.

Se o povo voltar a trabalhar, o vírus vai continuar transitando, porque ele sim sabe como gerir os seus potenciais. Lembrando que o Brasil já passou de mais de 1700 mortes em apenas 24 horas, totalizando mais de 250 mil, desde o começo da pandemia. Esse número só baixará se tiver vacinas, mas como vai baixar se as vacinas não tem um pai que cuide delas? Só o tempo dirá.

Jonathan Cabral
Aluno do Ensino Médio na Escola Estadual de Educação Profissional Professora Alda Façanha (Aquiraz)

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