Pelo direito de respirar

Escrito por Gilson Barbosa ,

Não há dúvida, caro leitor. Vivemos uma amarga ironia do destino. Na Amazônia, conhecida como “o pulmão do mundo”, as pessoas estão lutando pelo direito de respirar. Parece mesmo inacreditável, não fossem as imagens, depoimentos, a realidade incontestável das cenas de desespero em Manaus e outras cidades do Amazonas. Especificamente naquele Estado, a irresponsabilidade e a falta de respeito para com a população ultrapassaram todos os limites.

Os problemas infraestruturais, já evidentes no início do ano passado, quando centenas de pessoas foram enterradas em covas coletivas nos cemitérios da cidade, por conta da Covid-19, voltam-se a repetir agora, numa faixa de 180 a 213 sepultamentos diários. A rede hospitalar, insuficiente para atender à enorme demanda de vítimas, enfrenta agora o esgotamento total. 

A segunda onda instalou-se por conta das aglomerações durante as festas de fim de ano e o descumprimento das recomendações de praxe para o enfrentamento da doença. Os hospitais de campanha, que não deveriam ter sido desativados de imediato, fazem tremenda falta e a produção local de oxigênio destinada à rede hospitalar não supre nem a um terço da demanda exigida para o presente momento. 

Assim, familiares de vítimas têm que pagar preços exorbitantes para adquirirem pesados cilindros de oxigênio e levá-los até as empresas que os abastecem para, em seguida, socorrerem seus entes queridos nas enfermarias. São situações de desespero, de agonia, pois não se vive sem oxigênio e, nos hospitais manauaras, um cilindro chega a ser compartilhado entre quatro ou cinco pacientes para mantê-los vivos. Uma roleta russa pela sobrevivência, coisa que só poderia acontecer mesmo por aqui. Incompetência e vergonha dos poderes públicos estadual e federal. Mesmo com a demora em agir, que possam pôr fim a esta tragédia. É o que esperamos.

Gilson Barbosa
Jornalista

 

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