Outro ano letivo: onde fica o olhar atento e a escuta sensível?
O espaço escolar deveria ser um lugar de desejo pelo conhecimento, de aprendizado vivo e significativo
O início de mais um ano letivo traz consigo um novo fôlego: professores se reúnem em semanas pedagógicas, corredores escolares ganham cores com cartazes de boas-vindas, pais organizam mochilas e materiais escolares. As ruas ganham movimento, e a escola se enche de vida. No entanto, essa energia inicial dissipa-se rapidamente. Em poucas semanas, a rotina se impõe: aulas expositivas, professores esgotados, alunos desmotivados. O que acontece com a escola, afinal?
O espaço escolar deveria ser um lugar de desejo pelo conhecimento, de aprendizado vivo e significativo. No entanto, o que se vê com frequência é uma escola mecanizada, prisioneira de protocolos que reduzem a experiência de ensino e aprendizagem a um conjunto de regras fixas e pré-estabelecidas. A burocratização do ensino tem abafado a criatividade e distanciado professores e alunos da verdadeira essência do saber. Como já advertia Platão, o que um professor ensina antes de tudo não é conhecimento, mas amor pelo objeto do conhecimento.
A última pesquisa do Instituto Península reforça essa perspectiva ao apontar que 65,7% da qualidade da aprendizagem está diretamente ligada à qualidade do professor. Não basta dominar conteúdos curriculares; é essencial a capacidade de despertar o interesse e o desejo de aprender. O tão discutido "déficit de atenção" não se trata apenas de uma dificuldade cognitiva, mas também de um déficit de desejo provocado por uma escola que falha em se conectar emocionalmente com seus alunos.
O engessamento dos processos escolares é sintoma de um problema maior: a sociedade, em sua busca por soluções rápidas e padronizadas, tem se apoiado excessivamente em protocolos e procedimentos que eliminam a necessidade de um olhar atento e de uma escuta sensível. No entanto, educar é um ato humano e requer presença autêntica. Um professor que apenas segue um roteiro pré-definido perde a oportunidade de construir pontes entre a realidade dos alunos e o conhecimento que deve ser aprendido.
Na prática, isso significa que os professores precisam ultrapassar a mera transmissão de informação e tornar-se mediadores do desejo pelo saber. É necessário investir na construção de vínculos autênticos, respeitando a individualidade de cada aluno. O olhar atento e a escuta sensível não são apenas habilidades desejáveis, mas condições essenciais para que a escola se torne um espaço verdadeiramente transformador.
Por isso, é urgente que as instituições de ensino reavaliem suas práticas. Mais do que protocolos, precisamos de escolas que saibam ler os gestos, os silêncios e as angústias de seus alunos. Em vez de meros aplicadores de currículos, os professores precisam ser valorizados como profissionais que inspiram, provocam e despertam a curiosidade.
O futuro da educação passa por essa reflexão. Se queremos uma escola viva, pulsante e relevante, precisamos questionar o modelo engessado que aliena e afasta alunos e docentes de sua função essencial: construir conhecimento de forma humanizada. A escola do futuro deve ser aquela que, mais do que ensinar, consegue fazer seus estudantes sentirem o desejo em aprender.