O que “O Profeta” tem a nos dizer

Escrito por Lúcia Helena Galvão Maya ,
Lúcia Helena Galvão Maya é filósofa
Legenda: Lúcia Helena Galvão Maya é filósofa

Em 2023, completam-se 100 anos da publicação do poema em prosa “O Profeta”, do poeta e pintor libanês Gibran Khalil Gibran. Ao longo de 21 capítulos, Gibran discorre sobre os assuntos mais práticos da vida, desde o amor e o casamento, até os filhos; desde o comer e o beber até o amor e a amizade; a alegria, a tristeza, o bem e o mal, a morte e muitos outros aspectos fundamentais da vida humana.

Mas todos estes assuntos não são jogados aleatoriamente sobre o leitor; fazem parte do discurso de um profeta de Deus, Al Mustafá, que, depois de passar 12 anos em Orphalese, decide voltar à sua ilha natal. Na despedida, os habitantes da cidade suplicam por ensinamentos, que são dados em resposta às perguntas que lançam. E assim, tantos aspectos da vida humana desfilam diante de nós com uma beleza de palavras e uma profundidade de argumentos sem par.

Gibran costumava chamá-lo de “meu livro”, e dizia ter ensaiado para escrevê-lo desde muito jovem. Esse conhecimento amadurecido dentro dele aflora como um belo presente para a humanidade. Com Gibran, aprendemos que os filhos não nos pertencem, mas que vieram atender ao chamado da necessidade da vida, e que cuidamos para que estejam preparados para o seu voo, no momento certo. Aprendemos que o verdadeiro amor pode ser bastante duro, pois vai nos despir de tudo aquilo que não é real nem legítimo em nós, para que, purificados, possamos nos converter na farinha que se tornará o pão sagrado, no sagrado banquete de Deus. Ou seja, nossa maior realização, através do amor, é a de servir ao propósito de Deus para com o mundo.

Ele nos ensina ainda que os que mais falam de liberdade provavelmente são os que menos conhecem dela, e clamam por algemas, acostumados a andarem prisioneiros pela vida afora. E que, na prece, nossas palavras só são válidas quando emprestamos nossa voz para que a voz de Deus se faça ouvir através de nós...

Enfim, são quase 100 anos de um livro que nada mais é do que um grandioso tratado do bem viver, expresso com uma beleza tocante. Espero que 100 anos sejam suficientes para que os homens despertem para essa herança tão valiosa e saibam tirar o devido proveito dela para embelezar e dar sentido às suas vidas.

Lúcia Helena Galvão Maya é filósofa

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024