O ocaso do G7

Escrito por Fábio Sobral , fabio.maia.sobral@gmail.com

Legenda: Fábio Sobral é professor de economia da UFC
Foto: Arquivo pessoal

Começou nesta sexta-feira, 11/06/2021, o encontro do G7 na Inglaterra. O primeiro com a participação de Joe Biden. E a reunião histórica terá enormes desafios a debater. O principal é unir os velhos “parceiros” para enfrentar China e Rússia.

Os desafios de recompor o alinhamento automático da Europa aos Estados Unidos são imensuráveis. As fissuras entre a Alemanha e os Estados Unidos são cada vez maiores. As motivações econômicas aprofundam as divergências. Os Estados Unidos se opõem ao imenso gasoduto NordStream 2, que une a Rússia e a Alemanha por tubulações construídas no fundo do Mar Báltico.

Tal projeto é indispensável à economia alemã, que precisa de um fornecimento de energia mais barato para reduzir os custos no processo de produção. A expansão de suas taxas de lucro depende de redução do preço desse insumo.

A Alemanha foi beneficiária da chegada de muitos imigrantes qualificados fugidos da guerra na Síria, que rebaixaram o preço dos salários e estimularam o consumo interno. Porém, tal fonte está secando com a proximidade do fim dos conflitos neste país. A economia alemã precisa da recomposição dos lucros e a queda do preço da energia é a variável ideal.

A Rússia tornará a Alemanha a distribuidora da energia para o restante da Europa. Além disso, o gasoduto não transportará apenas combustível fóssil, mas hidrogênio. Uma mudança profunda da matriz energética, que reduzirá a emissão de gases de efeito estufa.

As conexões econômicas entre Rússia e Alemanha se aprofundam. Algo difícil de ser revertido por uma reunião do G7. Tal reunião parece indicar o princípio de novos rearranjos globais entre as economias.

Mesmo as grandes corporações capitalistas querem parte desse enorme mercado. Os “shadow banks” (bancos sombra), como a BlackRock, estruturas financeiras gigantescas e acima da regulação dos Estados nacionais, insistem em uma aproximação com os mercados chinês e russo.

As conexões históricas já não serão os elementos suficientes para uma unidade de ação. Talvez o alinhamento se dê entre Reino Unido e EUA. Mas, Alemanha e França tendem a uma reorientação pragmática pela lucratividade. O G7 vive o seu ocaso.

Fábio Sobral
Professor de economia da UFC

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