O eterno retorno dos militares ao poder

Escrito por Igor Mascarenhas , igormasc@gmail.com

Legenda: Igor Mascarenhas é professor
Foto: Arquivo pessoal

Entre as conspirações para retirar Dilma Rousseff da Presidência da República, Romero Jucá, ex-senador e líder do governo Temer, falou em um “grande acordo nacional, com Supremo, com tudo”, para o golpe. No entanto, o “com tudo” estava tomado por um eufemismo. Em outra conversa gravada, o ex-senador deixou isso mais transparente, quando disse que “estava conversando com os generais, comandantes militares”. Segundo Jucá, estava tudo “tranquilo” e os militares iriam “garantir” o impeachment.

No governo Temer, os militares conseguiram, até aquele momento, o maior número de cargos em um governo desde a redemocratização. Contudo, no governo Bolsonaro temos a maior presença, numérica e de cargos-chave, de militares no aparelho estatal, com um, inclusive, na vice-presidência, fator que minou muitas pretensões de impeachment, pelo menos até a administração pavorosa da pandemia.

Evidentemente que se pode falar da descrença com a classe política, que faz com que boa parte da população brasileira veja as Forças Armadas como uma instituição confiável - apesar do seu passado desastroso em relação à democracia. Esse é um roteiro que envolve uma doutrina militar de inimigo interno, antiquada – da época da Guerra Fria – mas que motiva um discurso de ódio e perseguições a brasileiros.

O golpe já foi dado: Bolsonaro pode até sofrer um impeachment, mas como ele mesmo diz, aqui no Brasil, a democracia só funciona se as Forças Armadas deixarem; e, por isso mesmo, são sombrias as perspectivas das instituições brasileiras, que calam diante dessa tomada silenciosa de poder.

Nossa única saída desse “eterno retorno” traumático será os militares desembarcarem do governo para não se associarem à tragédia humana vivida por causa do negacionismo e corrupção do governo Bolsonaro em relação à pandemia, o que pode levá-lo até mesmo ao Tribunal Internacional de Justiça em Haia (porém eles têm responsabilidade direta pelo que acontece).

Isto é, para “essa conta” não ir para as Forças Armadas, usando as palavras do próprio Hamilton Mourão, elas sairiam novamente por acordo, como foi no fim da Ditadura, com a anistia, que ao mesmo tempo que anistiava perseguidos políticos, fazia o mesmo com torturadores do regime. Certo estava Millôr Fernandes quando disse: “O Brasil tem um enorme passado pela frente”.

Igor Mascarenhas
Educador e sociólogo

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