O dilema da Selic: o que pode sufocar a economia
O próprio governo também sente os reflexos dessa política. Com grande parte da dívida pública atrelada à Selic, os gastos com juros se multiplicam
Mais uma vez, o Comitê de Política Monetária (Copom) opta por elevar a taxa básica de juros em um ponto percentual. A justificativa é clara: conter a inflação e garantir que, em 2025, os índices fiquem dentro da meta estipulada. No entanto, essa decisão tem impactos profundos sobre a população, especialmente para as camadas mais vulneráveis, que já enfrentam dificuldades diárias para equilibrar o orçamento familiar.
Não se pode negar que o Banco Central enfrenta um verdadeiro dilema. A inflação é um "dragão" que precisa ser domado, mas o aumento sucessivo da Selic pode acabar funcionando como uma dose excessiva de um remédio que, ao invés de curar, paralisa a economia. Com o crédito mais caro, tanto para famílias quanto para empresas, o consumo se retrai, o investimento diminui e o crescimento econômico fica comprometido.
O próprio governo também sente os reflexos dessa política. Com grande parte da dívida pública atrelada à Selic, os gastos com juros se multiplicam, tornando ainda mais difícil equilibrar as contas e investir em áreas estratégicas, como infraestrutura e programas sociais. A necessidade de arrecadar mais recursos pode levar à adoção de medidas impopulares, como aumento de impostos, reduzindo ainda mais o poder de compra da população e aprofundando a crise econômica.
O maior problema é que essa política monetária pode criar um círculo vicioso: com juros altos, as empresas reduzem investimentos, o crescimento estagna e o desemprego pode aumentar. Ao mesmo tempo, a inflação não desaparece por completo, já que fatores como a elevação dos preços dos alimentos e da energia elétrica têm causas que vão além do crédito. O risco de que o Brasil entre em um período prolongado de estagnação econômica é real.
O que se espera agora é um diálogo mais afinado entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda para que as medidas econômicas sejam melhor coordenadas. É necessário encontrar alternativas que combatam a inflação sem sufocar o crescimento econômico. O aumento da Selic é um remédio amargo, sim, mas até quando a economia brasileira poderá suportar seus efeitos colaterais? Se o objetivo é construir um país mais forte e sustentável, a solução não pode se limitar apenas ao controle inflacionário às custas do desenvolvimento. É hora de repensar as estratégias e garantir que o crescimento econômico e a estabilidade financeira caminhem lado a lado.