Mobilidade conectada

Escrito por João Borges ,

A eletricidade está invadindo o setor automobilístico. E isso porque há um abismo de vantagens separando as opções de fontes de energia hoje disponíveis. Diferentemente dos combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel, a energia elétrica representa uma fonte mais limpa e com maior praticidade no processo de abastecimento.

E o que é melhor: sem prejuízo no desempenho do veículo. Para se ter uma ideia, os carros elétricos atuais têm autonomia próxima dos 400 quilômetros e alcançam potências equivalentes aos motores a combustão. Razões que fazem até mesmo as montadoras apostarem todas as fichas de que o futuro vai precisar de carregadores extras.

Mas isso faz suscitar uma questão que passa despercebida para a maioria das pessoas: afinal, aquele condomínio onde está o apartamento dos seus sonhos foi preparado para essa inovação?

É bom que sua resposta seja positiva, porque, dependendo da sua idade, é bastante provável que você vá ter um carro elétrico num futuro breve. E considerando que estamos falando de energia para fazer funcionar não um simples aparelho celular ou um liquidificador, mas um equipamento que pesa mais de uma tonelada, convenhamos que não será uma tomada residencial qualquer que vai abastecer seu veículo.

A solução é um pouco mais complexa, e passa por projetos de engenharia inovadores, que começam a adaptar pontos de abastecimento para cada vaga na garagem dos condomínios residenciais e comerciais. Ainda que estejamos tratando de energia elétrica, sabemos que o aumento da demanda por este “produto” exigirá um desempenho maior das hidrelétricas, que até o momento são as principais fontes no Brasil. E esse aspecto também precisa ser incorporado às soluções de arquitetura e engenharia desse início de século XXI.

Antes de tudo, com a instalação de painéis solares com capacidade ampla de produção de energia. Mas há mais do que isso nos novos projetos. A maioria das pessoas que compra um imóvel faz financiamentos de 15 anos ou mais. Pressupõe-se que ela vá morar ou explorar por um bom tempo o local, inclusive quando os veículos elétricos estiverem mais popularizados. Por isso, é necessário considerar as adaptações futuras, e elas passam não somente por esse fornecimento de energia, mas também pela oferta de um controle inteligente e sustentável do que é produzido internamente.

Hoje existem gerenciadores que obedecem às demandas: no momento em que houver um consumo maior de energia elétrica em todo o condomínio, o abastecimento dos carros é interrompido. A partir da redução desse consumo ao longo do dia – de madrugada, por exemplo –, o gerenciador volta a enviar carga aos veículos conectados ao carregador. Esse dispositivo garante sustentabilidade e, por consequência, economia de energia aos condomínios, mesmo com a incorporação dos carros elétricos.

Perceba que não estamos falando do que vai acontecer no futuro, mas o que já é realidade nos atuais projetos de engenharia. Para se ter ideia do aumento dessa necessidade, a Agência Internacional de Energia (IEA) mostrou que, no 1º trimestre do ano passado, as vendas de veículos elétricos cresceram 140% em todo o mundo. Em 2020, diz a Agência, o mundo gastou US$ 120 bilhões na compra de veículos elétricos.

Essa tendência está apenas começando, mas já exigirá uma grande quantidade de adaptações paralelas. A construção civil, particularmente, precisou antever esse avanço para assegurar que as novas residências e edifícios comerciais atendam a mais uma demanda social. Os carros elétricos ainda nem se popularizaram por aqui, mas o carregador já está instalado.

João Borges é engenheiro eletricista

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024