Menstruação: uma questão de saúde pública

Escrito por Lilian Serio ,

Lilian Serio é ginecologista e especialista em medicina reprodutiva
Legenda: Lilian Serio é ginecologista e especialista em medicina reprodutiva

Está em forte discussão na mídia nacional o veto presidencial que barrou artigos de um projeto de lei aprovado no Congresso Nacional que previa a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda, mulheres em situação de rua e presidiárias. Independente dos fatores que levaram ao veto desse projeto de lei, sejam eles partidários ou não, o que está em jogo de verdade, é a saúde pública de milhares de brasileiras. 

A menstruação é uma reação absolutamente natural do corpo da mulher. A cada 21 dias ocorre o ciclo menstrual. Infelizmente, o que deveria ser visto como uma reação biológica natural ainda está em volta de diversos tabus na nossa sociedade. E o pior, em pleno século XXI, ainda faltam políticas públicas que possam amenizar o constrangimento de milhares de mulheres que passam por transtornos quando estão menstruadas. O que temos visto por aí são iniciativas pontuais e precisam ser massificadas para atender as mulheres desassistidas. 

Um dado das Organizações das Nações Unidas (Unicef) chama a atenção: no  Brasil, 25% das meninas com idade de 12 a 19 anos deixaram de ir à escola alguma vez por não terem um absorvente quando estavam menstruadas. O relatório da entidade ainda aponta que a falta de informação sobre o que é a menstruação e o acesso a absorventes é um problema global. O estudo destaca que 60% das meninas, em todo o mundo, não são totalmente informadas sobre a menstruação. E isso pode, sem dúvida, traumatizar os primeiros ciclos menstruais. 

A higiene íntima feminina precisa ser cuidada de forma muito atenta, e quando se está no período menstrual mais ainda. O sangue que corre pelo corpo da mulher pode acarretar aparecimento de fungos e bactérias, que durante a menstruação se torna ainda mais suscetível devido à abertura do colo uterino.

Oferecer uma assistência às mulheres que não têm condições de comprar produtos básicos para cuidar da higiene não é um favor, é uma obrigação que todos os governantes deveriam pensar. O acesso a outros direitos como a água tratada, saneamento básico e estrutura adequada para uma higiene humana é o mínimo, é uma questão de saúde pública.

Lilian Serio é ginecologista e especialista em medicina reprodutiva | lilianserio@fertibabyceara.com.br

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024